quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

O Que é Horror Gótico?


Danza Macabra (1964) pode não ser o melhor que o ciclo de cinema de horror gótico italiano dos anos 60 e 70 tinha a oferecer (vide qualquer um do Mario Bava) e talvez nem a mais impecável das performances da diva Barbara Steele (que sempre deu seu melhor como vilã do que como vítima), mas há algo nele que vai além de suas ocasionais limitações. De forma intencional ou não, essa despretensiosa produção de Sergio Corbucci e Antonio Margheriti funciona como uma espécie de síntese de TODOS os elementos essenciais não só do gótico italiano, mas do horror gótico em geral.

A começar pela estética, com seu mais do que apropriado castelo assombrado, abandonado e decadente, cheio de teias de aranha, armaduras, criptas e névoas, quase um "checklist" de elementos góticos que críticos ranzinzas costumam taxar de derivativos e pouco originais. Mas é o uso efetivo do peso geográfico desse cenário e da simbologia de seus arquétipos que leva o filme a transcender a mera soma de suas partes. A forma como o tradicional protagonista cético, vivido por Georges Rivière, se vê aprisionado num sinistro microcosmo onde é até difícil saber se estamos na presença de fantasmas ou se é o próprio tempo que está se dobrando sobre si mesmo, levando os vivos e os mortos das mais diversas épocas a interagirem. Possivelmente ambos.

A estrutura narrativa vai perdendo a linearidade até nos tragar numa espiral de eventos passados que se retroalimentam, a História vista como uma coisa viva e faminta, que devora e transfigura, gestando "presenças" mais ou menos cientes de sua condição, continuamente reencenando, como num teatro macabro, os momentos cruciais em que paixões reprimidas transbordaram em fúria e tragédia, sedentos pelo sangue dos vivos que caem em sua teia. Uma "massa crítica" que nem o próprio Margheriti conseguiu recriar ao tentar refilma-lo em 1971, como Web of the Spider.

Não por acaso, quando me perguntam: "O que é horror gótico?" esse é o filme que costumo recomendar (a versão italiana, não a americana "Castle of Blood" 😉). E afinal estamos falando de Edgar Allan Poe em pessoa nos conduzindo até o castelo onde Steele, mais fantasmagórica que nunca, nos espera para dançar... por toda a eternidade!






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