"Em meus sonhos, eu volto ao ano de 1795, quando era feliz. Estava indo me casar. Estava indo para a casa onde iria encontrar meus dias repletos de medo, minhas noites repletas de horror."
And Now the Screaming Starts (1973) tem alguns problemas técnicos bem chatinhos, particularmente uns efeitos toscos (e, no limite, desnecessários) que tendem a chamar atenção demais e desviar o foco do que interessa.
Mas se o espectador for sábio o bastante para debitar esse tipo de coisa na conta das necessidades marqueteiras do cinema de horror de baixo orçamento dos anos 70 (junto com o escalafobético título genérico), será recompensado com uma história de horror genuinamente angustiante, talvez o gothic horror mais medonho produzido pela Amicus Productions, ainda que boa parte desse peso possa não ter sido planejado ou mesmo percebido pelos realizadores, já que todos os envolvidos no processo criativo eram homens e o que torna o filme tão contundente é o fato de poder ser lido como um legítimo pesadelo feminino.
A história de uma jovem recém-casada (Stephanie Beacham) pega no fogo cruzado de uma vingança sobrenatural herdada por sua nova família, a maldição de um servo contra o patriarca dos Fengriffen pelo estupro de sua noiva em plena noite de núpcias, a la prima nocte. O problema é que a tal maldição não se abateria sobre o criminoso, nem diretamente sobre seus descendentes, mas sim sobre "a próxima noiva virgem a vir para a casa dos Fengriffen", destinada a ser igualmente violada para que a linhagem oprimida pudesse obliterar a linhagem opressora!
Monstruoso, não? Será que o diretor Roy Ward Baker e o autor da novela original queriam demonstrar que vítimas e algozes, camponeses e aristocratas, acabam por se igualar no que se refere à misoginia? Que a luta de classes pode se deteriorar numa vil "disputa de paus" entre vivos e mortos, com o corpo feminino reduzido a mero receptáculo para heranças e máculas ancestrais masculinas? Ou, assim como os homens da história, nem se deram conta do quão visceralmente o filme captura o horror inerente à instituição do casamento?
Difícil dizer. Mas, no fim, é a plateia que não pode fugir à responsabilidade por tal leitura.
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