quarta-feira, 8 de julho de 2020

Quando Sherlock Holmes descobriu quem era Jack, o Estripador...


Há quem diga que a maior prova de que Sherlock Holmes é só um personagem fictício criado por Arthur Conan Doyle é o fato de que até hoje não sabemos quem foi Jack, o Estripador.

Como é possível que o maior detetive de todos os tempos, em plena atividade naquele ano de 1888, não tenha sido sequer consultado pela Scotland Yard?!

Ora, eruditos sherlockianos chegam a rir da ingenuidade desse argumento! Evidente que se trata de um daqueles casos (como o do infame rato gigante do Sumatra) que o fiel cronista das aventuras de Holmes, o Dr. John Watson, achou por bem omitir das publicações periódicas na Strand Magazine, decerto por envolver membros da alta aristocracia e representar um risco de escândalo capaz de abalar os alicerces da coroa!

Essa é a premissa implícita de Assassinato por Decreto (1979), produção britânico-canadense que tenta especular como teria sido esse hipotético confronto entre o Grande Detetive e o primeiro serial killer da história. A ideia já tinha sido explorada em A Study in Terror de 1965, mas o filme de Bob Clark é muito mais efetivo na criação de uma amálgama capaz de dar conta tanto do cânone sherlockiano quanto dos principais fatos históricos a respeito do estripador e suas vítimas.

Por mais que a "solução" proposta, inspirada nas então recentes teorias de Stephen Knight, Elwyn Jones e John Lloyd, já tenha sido desacreditada por historiadores, tópicos como o envolvimento da família real, conspiração maçônica e o papel do médium Robert Lees são icônicos o bastante para continuar soando convincentes nas performances de lendas como John Gielgud e Geneviève Bujold.

James Mason sozinho consegue redimir toda a trajetória de alívio cômico que Watson teve que amargar no cinema e apesar de Christopher Plummer não ser meu Holmes favorito (Jeremy Brett é páreo duro), sua visão humanista do personagem se mostra ideal para uma história tão cruel a ponto de levar até o grande Sherlock às lágrimas!

Admito que a inexplicável ausência de Mycroft Holmes numa trama com tal temática me incomoda, mas ver o maior símbolo de justiça da literatura inglesa apontando o dedo acusador ao coração do império é um deleite fino para tempos tão sombrios.


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