domingo, 12 de julho de 2020

A Outra Filha de Drácula...


Um filme de vampiros que se passa no mesmo universo ficcional de Twin Peaks.

"Sério?" Bom, foi o próprio David Lynch que afirmou isso quando lhe perguntaram sobre sua ponta como um guarda de necrotério que também aparece nas cenas deletadas de A Estrada Perdida (o que implicaria que TODA a filmografia de Lynch se passa num mesmo universo compartilhado, algo que quem assistiu Twin Peaks: The Return provavelmente nem vai estranhar).

Seja como for, Nadja (1994) de Michael Almereyda (produzido pelo parça Lynch) é um dos mais estranhos e interessantes filmes de vampiro das safras inspiradas em Anne Rice nos anos 90. Uma espécie de "remake pirata" de A Filha de Drácula com uma Elina Löwensohn toda deslumbrante e blasé, vagando pela night noventista num glamouroso figurino Goth Chic, livre para exercer a bissexualidade que Gloria Holden mal podia insinuar nos anos 30.

É fato que a pegada indie existencialista, reforçada pela fotografia P&B e a filmagem experimental com lentes propositalmente pixelizadas nos trechos mais surreais, soa hoje mais datada do que qualquer terror gótico dos anos 40 ou 60, mas o filme tem a vantagem de nunca menosprezar suas origens góticas clássicas como seus congêneres teimavam em fazer.

Longe de reduzir Drácula a uma "ficção vulgar", Almereyda chega a usar o rosto de Bela Lugosi nas imagens em flashback do recém-falecido pai dos gêmeos Nadja e Edgar (Jared Harris), insinuando que as vãs (e não lá muito convictas) tentativas desses filhos de Drácula de negar sua herança refletem as tendências que o próprio subgênero vampírico atravessava no período, fazendo do filme um curioso e quase debochado tratado metalinguístico debaixo de sua fachada emo melancólica.

Na facilidade lânguida com que Nadja se deixa levar pelo impulso de seduzir e vampirizar uma garota chamada, justamente, Lucy (Galaxy Craze) ou na rapidez com que busca refúgio nos tão renegados Montes Cárpatos logo que o decadente Van Helsing de Peter Fonda dá as caras com sua bike😳 carregada de estacas, o filme meio que se antecipa ao inevitável (e no fundo desejado) desgaste da fórmula annericeana, salvando-se de hoje parecer tão démodé quanto o termo pós-modernidade.



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