terça-feira, 4 de junho de 2019

Daqui a 25 anos...


Volta e meia alguém me pergunta se pretendo escrever um artigo sobre Twin Peaks: The Return pra, de certo modo, dar continuidade à defesa do último episódio da Twin Peaks original que escrevi aqui antes do lançamento da série nova.

Costumo brincar que talvez daqui a uns 25 anos eu faça isso.😜

Mas, falando sério, o lance é que apesar de eu ter ficado absolutamente maravilhado com The Return, não tenho nada a escrever que seja melhor ou mais interessante do que outros artigos que já li em português (especialmente a cobertura do site Cine Set, minha favorita).

Mas pra não dizer que não comentei nada, deixo aqui um registro sobre a primeira coisa que me marcou na série nova, a primeira coisa a me convencer de que o revival, no fim das contas, valia a pena: o novo tema de abertura.

A minha impressão é que David Lynch basicamente faz uma declaração de intenções ali. Depois de 25 anos vendo a cachoeira do Great Northern Hotel sempre pelo mesmo ângulo, jorrando à distância e nos conduzindo pela correnteza em direção à cidade, de repente o rosto tão familiar de Laura Palmer nos arremessa para o ângulo diametralmente oposto. Agora estamos SOBRE a cachoeira, encarando a sua queda vertiginosa, porém não caímos junto com ela, não fluímos mais para a cidade, mas sim pairamos sobre tudo, até a sala vermelha.

É como se Lynch dissesse: não é mais o mesmo ponto de vista que você estava acostumado, o tempo passou, a perspectiva mudou, muda-se o ângulo, muda-se o mundo, para o bem ou para o mal.

E assim foi essa nova série, que nunca foi (por mais que fãs e resenhistas teimem desesperadamente em chamar assim) uma "terceira temporada", mas sim, como nos diz o IMDb e o próprio Lynch, uma nova obra, que resgata e explora possibilidades de uma obra concluída 25 anos antes, num desenvolvimento natural e orgânico não de uma história, um plot, um seriado, mas de uma trajetória artístico-conceitual de alguém que, antes de cineasta, é um artista plástico.

Querem um conselho? Não interpretem, não tendem decifrar, não fiquem desesperados caçando "respostas" e "explicações" que só vão lhes atravancar. Curtam a viagem. É a única forma de "entender" alguma coisa.😉


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