sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O Diabo Falando Esperanto...


Incubus (1966), de Leslie Stevens, é uma obra única. Antes de mais nada por ser um dos raríssimos filmes falados em esperanto (a pretensa "linguagem universal" criada em 1887 por Ludwik Lejzer Zamenhof) com o objetivo de intensificar ainda mais sua atmosfera exótica e surreal.

De fato, os diálogos não-naturalistas soam particularmente "inlocalizaveis" e fantasmagóricos ao serem recitados nesse estranho pout-pourri de línguas indo-europeias, mas vai além disso. Essa belíssima história de succubus e incubus atormentando mortais num povoado atemporal é cercada de estranhas circunstâncias que alimentam sua fama de "filme maldito". O negativo original foi destruído num acidente e a obra foi considerada perdida até 1996, quando uma cópia foi encontrada na cinemateca francesa (por isso que todos os releases disponíveis tem legendas em francês fixas na tela, muitas vezes cobertas por tarjas em inglês), boa parte do elenco foi vítima de algum tipo de tragédia direta ou indiretamente relacionada às filmagens ou mesmo às tentativas de relançamento do filme em home video, sem contar inúmeras coincidências sugestivas fazendo eco com as temáticas ocultistas do enredo.

Evidentemente tornou-se um cult movie. Alguns fãs mais exaltados chegam a afirmar que o filme em si é, na verdade, um ritual de invocação, que se o espectador assisti-lo com a intenção consciente de invocar o diabo, o dito cujo vai aparecer (comigo até agora não rolou, devo estar fazendo algo errado🤔). Porém, independente de todo o folclore, o fato é que Incubus é um dos filmes de horror mais interessantes e originais já produzidos nos EUA, subvertendo as temáticas típicas do gênero ao ter como protagonista uma "jovem" e ambiciosa súcubo (Allyson Ames) que, cansada de seduzir pecadores ao inferno, almeja "corromper uma alma verdadeiramente pura" (William Shatner pouco antes de se tornar o Capitão Kirk de Jornada nas Estrelas) apenas para acabar sendo ela mesma "violentada por sua bondade".

Simbolicamente ambíguo e de arriscada interpretação, é um filme que atingirá fundo quem ousar se render à sua estranha beleza, mas vale mais a pena do que usa-lo como mero recurso pra invocar o demonho.😉



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