segunda-feira, 24 de julho de 2017

Ingmar Bergman e o Horror que Ousa Dizer seu Nome

 "'A Hora do Lobo' é um desses filmes góticos belos e assustadores, que usa as palavras de modo muito sugestivo. Aquela hora terrível por volta das 3 da manhã quando pessoas costumam morrer e bebês nascer, mas também quando acordam e não conseguem dormir ou, se dormem, têm pesadelos terríveis. A hora, talvez, na qual o subconsciente aflora. É uma descrição maravilhosa para esse filme." (Marc Gervais - The Search of Sanity)
O horror, mesmo hoje em dia, é um gênero curiosamente encabulado.

Crítica, público, até mesmo cineastas podem ser facilmente flagrados dizendo coisas como: "Na verdade não é exatamente horror, é um drama com toques macabros" ou "meu filme não é de horror, é um suspense psicológico", sempre que um filme do gênero surpreende com uma qualidade acima da média, como se o fato de ser tão bom fosse contraditório a ser apenas um "filme de terror".

Algumas frases que já flagrei vindas de figuras inteligentes que admiro e respeito (grifos meus):

"...um filme de terror feito por um diretor que mantém um saudável desprezo pelas convenções do gênero" (consegue imaginar alguém usando essa mesma frase pra se referir a um drama de época, uma comédia ou uma aventura?)

"Frankenstein: mais do que horror e monstros" (título de um dos melhores artigos que já li sobre o clássico de Mary Shelley)

"...sempre que algum cineasta de talento apenas mediano se dedica a injetar pompa, seriedade e tragédia a um gênero que visa prioritariamente a diversão (caso do horror), o resultado é a irregularidade e a monotonia." (essa veio de um crítico de cinema que pesquisa o gênero academicamente e, até onde sei, de forma impecável!)

Claro que a produção em massa de terrorzinhos padrão americano médio tem parte da culpa dessa falta de autoestima, mas o problema na verdade é antigo, quem conhece bem a história do gênero sabe que esse tipo de coisa tem a ver com uma má compreensão generalizada do potencial do horror como forma de expressão artística.

E se tem uma coisa que dá um nó na cabeça dos mais preconceituosos, é quando um cineasta que seja amplamente reconhecido como um grande mestre da sétima arte, alguém dito como um "autor", realizador de "filmes de arte" (seja lá o que isso signifique), com estética refinada, experimentalismo formal, etc, etc, escolhe o horror como forma de expressão.

E mais ainda: quando esse autor não nega e nem disfarça dizendo que fez um "suspense psicológico", um "drama mórbido", ou qualquer outro eufemismo. Pelo contrário, declara orgulhosamente: "Estou filmando um filme de horror".

É ótimo pra dar uma bagunçada na cabeça de tipos bem antagônicos de público, desde os que consideram "cinema europeu" e "filmes de arte" como chatices esnobes (e que muito provavelmente diriam que Ingmar Bergman não entendia os pressupostos do gênero, ou que fez um horror intelectual demais, ou muito chato e patati patata...), até os que consideram o horror como desprezível "exploitation" apelativo, superficial e artisticamente pobre (esses costumam se enrolar nos malabarismos argumentativos mais delirantes para negar que seu ídolo tem sim um filme de terror no currículo😜).

Independente de toda polêmica: Hour of the Wolf é uma obra-prima... e mete medo pra caraio.😉 Ainda duvida? Dá uma clicada no documentário abaixo, faço minhas as suas palavras.😌



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