É engraçado... ao mesmo tempo em que tantos se queixam de não ter tempo pra nada, quanto mais pra ler livros inteiros, uma época em que 2200 caracteres no instagram já são taxados como "textão", os best sellers da moda não apenas incham em número de páginas como se multiplicam em séries de trocentos volumes.
Ainda assim, suponho que sem o estímulo do hype (e das inevitáveis adaptações para cinema e seriados) realmente tem se tornado mais difícil o comprometimento com longas leituras. Não tanto pelo tamanho dos livros, mas pela necessidade de escolha. Passar dias, semanas ou até meses debruçado sobre um único volume significa abrir mão de inúmeros outros, não é? Ou dispersar-se começando ao mesmo tempo uma dezena de títulos e acabar não terminando nenhum.
Falando pessoalmente, foi-se o tempo em que o tio aqui tinha disposição, paciência ou neurônios para devorar 800 páginas em uma semana e já saltar para o próximo título. Mais comum tornou-se ler metade do primeiro capítulo e travar no "Será que vale a pena continuar esse? Não seria melhor aquele outro? Ou aquele outro? Ou aquele?" (ser libriano também não ajuda).
Falando pessoalmente, foi-se o tempo em que o tio aqui tinha disposição, paciência ou neurônios para devorar 800 páginas em uma semana e já saltar para o próximo título. Mais comum tornou-se ler metade do primeiro capítulo e travar no "Será que vale a pena continuar esse? Não seria melhor aquele outro? Ou aquele outro? Ou aquele?" (ser libriano também não ajuda).
Certa vez o velho Stephen King escreveu que ler um romance é como estar casado com ele. Curiosa metáfora para tempos líquidos. Estaríamos sem condições de dar conta tanto de relacionamentos profundos quanto de grandes leituras? Sem disposição para se entregar, mergulhar, ter paciência, perseverança, perder-se, encontrar-se, fazer escolhas, enfrentar consequências?
Porém, no mesmo texto, King afirma que, por outro lado, contos são como "beijos roubados no escuro". Algo fugaz, mas marcante... talvez até determinante. Afinal short stories não foram sempre tão vitais para a literatura de horror? Muitos dos grandes mestres do horror gótico sequer escreveram romances, apenas contos e noveletas. O equivalente literário a narrar histórias ao redor da fogueira, contar "causos" ou sussurrar sinistras canções de ninar enquanto as crianças se cobrem até o nariz. Sim, é isso, o horror nos rouba beijos quando estamos a sós em nossos lugares escuros... uma imagem tão maravilhosamente cafona, não é? Mas afinal, que seria do gótico sem cafonice?😉
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