sexta-feira, 26 de junho de 2020

Só faltou o final...


O único erro de The Living and the Dead (2016) não é algo exclusivo dessa série. Ao contrário, é um problema recorrente em inúmeros seriados dos últimos anos: não se assumir como aquilo que de fato é: uma MINI-série, NÃO uma série.

Ao final do sexto episódio, com a trama muito bem concluída, mistérios resolvidos e todas as pontas soltas devidamente amarradas, ao invés de adotar um tom de encerramento e se encaminhar para um epílogo, introduz um plot twist no ÚLTIMO MINUTO, fechando a série com um cliffhanger que nunca seria retomado.

Não é um erro pequeno.

Primeiro pela frustração que causa no espectador já envolvido emocionalmente com o desfecho que se esboçava. É como uma sinfonia sem o último acorde. Segundo porque condena uma obra belíssima e 99% impecável ao abismo sem fundo das listas de "séries canceladas na primeira temporada". Ou pior, "séries sem final" que quase ninguém se arrisca a conhecer.

Tudo por uma aposta vazia numa tentativa de "manutenção de produto" que, se vingasse, provavelmente resultaria numa segunda temporada esticada e sem propósito, sem nenhuma história pra contar (como aconteceu com The Frankenstein Chronicles, por exemplo).

É triste, pois a (mini)série de Ashley Pharoah (com os fofíssimos Colin Morgan e Charlotte Spencer) é uma das produções mais lindas da BBC nos últimos anos. Uma apaixonante e melancólica história de fantasma que se desenvolve de forma realmente original, com uma abordagem bastante perspicaz sobre alguns dos temas mais antigos e queridos da literatura gótica.

Há até quem classifique certos pontos do enredo como ficção científica mas não acho que seja por aí. A conversa aqui me parece muito mais com a obra do escritor americano Ambrose Bierce e sua peculiar (e quase budista) visão do tempo e do espaço e a natureza daquilo que convencionamos chamar de "sobrenatural". A realidade em si como uma ilusão fugidia e transitória na qual os vivos e os mortos podem vir a se encontrar e interagir sem sequer se reconhecerem enquanto tais (a não ser, talvez, muito depois, como já nos dizia Edith Wharton em seu clássico Afterward). Aquela familiar intuição de que JÁ SOMOS fantasmas para aqueles que virão. Ou até para os que já se foram...



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