sábado, 13 de junho de 2020

Uma "Fita" do Mal...


É difícil explicar hoje em dia o impacto que The Evil Dead teve em quem o assistiu pela primeira vez na época do lançamento em 1981 (ou, no caso do Brasil, por volta de 82 ou 83).

É comum na tradição do horror literário referências a livros amaldiçoados, obras que não se permitem ler impunemente, capazes de enlouquecer ou liberar horrores indescritíveis até naqueles que meramente ousam guardar uma cópia em casa. Pois é, por mais que (assim como hoje) a molecada até tirasse sarro e se divertisse com as tosqueiras e aspectos mais cartunescos da estreia de Sam Raimi na direção, o fato é que lá no fundo... a gente tinha cagaço daquela fita!

Não só do filme, me refiro à fita mesmo, ao objeto!

Não ficaria surpreso se houve quem segurou aquele VHS nas mãos e, por um instante, teve a impressão que os carretéis iam rugir, como naquela cena clássica de Videodrome, só se atrevendo a empurra-lo para dentro do videocassete quando os demais amigos já tivessem chegado para a sessão. Deus o livre de assistir essa porra sozinho!

É, crianças, A Morte do Demônio era um filme "do mal"! Naquele tempo, em que a gente ainda estava se acostumando com a dinâmica do home video de poder levar um filme pra casa e assistir na hora que quisesse, sem depender de cinemas ou de TV aberta, cópias piratas de Evil Dead (que os atendentes de locadora chamavam de "alternativas") circulavam dentro das mochilas e trocavam de mãos debaixo das carteiras da escola com reverência e temor. Histórias eram contadas sobre vozes ouvidas durante as caminhadas solitárias de volta pra casa depois de assistir ou sobre os pais acordados aos gritos no meio da madrugada.

Parece inacreditável, nesse mundo de streamings, que uma fita VHS pudesse se revestir de tal aura, mas ouso afirmar que, mesmo hoje, há realmente algo de bizarro nesse pequeno clássico. Algo que extrapola suas qualidades e defeitos. Alguma coisa no som, na crueza estética, naquela estranha mescla de escatologia com uma efetiva atmosfera gótica, o microcosmo da cabana, a névoa entre as árvores, os sussurros, o risinho infantil de Linda arrepiando cada poro do corpo.

Sim, A Morte do Demônio é "do mal". Eu não ousaria duvidar.😉


Aproveitando o Ensejo:


Se, por acaso, você já se deparou com uma enigmática "franquia" de horror italiana que atende pelo título genérico de "La Casa" e ficou se perguntando porque diabos os dois primeiros filmes NUNCA aparecem nos sites de torrent... bom, saiba que é meio confuso mesmo, tanto que até eu levei um tempinho pra entender essa zona. Mas, na real, é exatamente o que parece: "La Casa" foi o título adotado na Itália para o lançamento de The Evil Dead e Evil Dead II, em meados dos anos 80, uma estratégia de marketing um tanto bizarra que meio que tentou forçar uma identificação com o estilo de splatter horror que Lucio Fulci andava lançando naquele mesmo período (os próprios pôsteres lembravam muito The House by the Cemitery).
Ainda que transformar a cabaninha nas montanhas dos filmes do Raimi numa mega mansão gótica sulista possa ser considerado propaganda enganosa, o truque deve ter funcionado muito bem, porque nada menos que três filminhos genéricos de terror satânico e bruxaria que estavam sendo produzidos mais ou menos naquela época acabaram sendo lançados em território italiano como "continuações" de Evil Dead! Sem a menor vergonha na cara e sem medo de ser feliz!😅

Assim, GhostHouse de Umberto Lenzi virou La Casa 3 (1988), Witchery de Fabrizio Laurenti foi lançado como La Casa 4 (1988) e Beyond Darkness do picareta Claudio Fragasso entrou para a história do horror italiano como o famigerado La Casa 5 (1990). E antes que alguém pergunte, não, nenhum dos três tem sequer a mais remota semelhança com o bom e velho A Morte do Demônio, seja na trama ou na qualidade (aliás, sequer tem relação um com o outro, são todos filmes independentes, não sequencias).

Acha pouco? Bom, saiba que (em certos mercados) também houve um La Casa 6 e um La Casa 7, que eram nada mais nada menos que os títulos italianos para House 2: The Second Story e The Horror Show (também conhecido como House 3), as sequencias do cult oitentista (e clássico de Sessão da Tarde) A Casa do Espanto! Pois é, uma zona... que só acabou em 1992, quando Raimi enfim lançou Army of Darkness, a verdadeira continuação de Evil Dead e Evil Dead II.

Mas, cá entre nós, os pôsteres eram maravilhosos, não?😉


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