de Lucio Fulci
com Catriona MacColl, Christopher George, Carlo de Mejo, Janet Agren, Antonella Interlenghi, Giovanni Lombardo Radice, Fabrizio Jovine, Michele Soavi, Venantino Venatini, Luciano Rossi, Daniela Doria
Sempre me pareceu curioso que o primeiro filme da assim chamada Gates of Hell's Trilogy de Lucio Fulci tenha sido lançado justamente no ano em que Inferno de Dario Argento estreou. Ambos parecem se orientar por uma busca daquilo que poderíamos chamar de um cinema de horror "abstrato", inteiramente focado em formas, cores, situações e ritmos, deixando em segundo (ou terceiro, ou quarto) plano coisas como enredo, lógica narrativa e verossimilhança. Mas enquanto Argento foi meio que largando mão dessa proposta em trabalhos posteriores (talvez assustado com a recepção gélida que Inferno teve na época, vide meu apontamento sobre o filme😉), Fulci a abraçou sem ressalvas, fazendo dessa lógica conceitual o seu principal motor criativo no decorrer dos anos 80. Nem sempre isso funcionou muito bem, mas mesmo que a fórmula começasse a se perder já na segunda metade da década, no seu melhor Fulci nos entregou um dos ciclos mais singulares da história do cinema de horror, pesadelos fílmicos carregados de uma intensidade febril, onde tanto público quanto personagens se veem tragados por um universo grotesco em que as "regras" da realidade não mais se aplicam, sem ter a menor ideia de como ou porque. Em Pavor na Cidade dos Zumbis, tudo o que sabemos é que o suicídio de um padre abriu as portas do inferno na amaldiçoada cidade de Dunwich (aquela do Lovecraft) e a partir daí tudo (e quero dizer TUDO) simplesmente PODE acontecer! É o fantástico libertando a imagem cinematográfica de todos os seus pressupostos. E depois de anos e anos respeitando bonitinho as regras dos gialli, pepluns, comédias e spaghetti westerns que dirigiu em toda a sua carreira, o tio Fulci estava mais do que pronto pra começar a brincar de verdade.😈
…E tu vivrai nel terrore! L'aldilà AKA The Beyond (1981)
Sempre me pareceu curioso que o primeiro filme da assim chamada Gates of Hell's Trilogy de Lucio Fulci tenha sido lançado justamente no ano em que Inferno de Dario Argento estreou. Ambos parecem se orientar por uma busca daquilo que poderíamos chamar de um cinema de horror "abstrato", inteiramente focado em formas, cores, situações e ritmos, deixando em segundo (ou terceiro, ou quarto) plano coisas como enredo, lógica narrativa e verossimilhança. Mas enquanto Argento foi meio que largando mão dessa proposta em trabalhos posteriores (talvez assustado com a recepção gélida que Inferno teve na época, vide meu apontamento sobre o filme😉), Fulci a abraçou sem ressalvas, fazendo dessa lógica conceitual o seu principal motor criativo no decorrer dos anos 80. Nem sempre isso funcionou muito bem, mas mesmo que a fórmula começasse a se perder já na segunda metade da década, no seu melhor Fulci nos entregou um dos ciclos mais singulares da história do cinema de horror, pesadelos fílmicos carregados de uma intensidade febril, onde tanto público quanto personagens se veem tragados por um universo grotesco em que as "regras" da realidade não mais se aplicam, sem ter a menor ideia de como ou porque. Em Pavor na Cidade dos Zumbis, tudo o que sabemos é que o suicídio de um padre abriu as portas do inferno na amaldiçoada cidade de Dunwich (aquela do Lovecraft) e a partir daí tudo (e quero dizer TUDO) simplesmente PODE acontecer! É o fantástico libertando a imagem cinematográfica de todos os seus pressupostos. E depois de anos e anos respeitando bonitinho as regras dos gialli, pepluns, comédias e spaghetti westerns que dirigiu em toda a sua carreira, o tio Fulci estava mais do que pronto pra começar a brincar de verdade.😈
…E tu vivrai nel terrore! L'aldilà AKA The Beyond (1981)
de Lucio Fulci
com Catriona MacColl, David Warbeck, Cinzia Monreale, Antoine Saint John, Veronica Lazar, Giovanni De Nava, Al Cliver, Gianpaolo Saccarola, Maria Pia Marsala, Laura De Marchi, Tonino Pulci
Quando se fala na Gates of Hell's Trilogy do Fulci, a conversa quase sempre acaba girando em torno do gore, da violência explícita, dos olhos arrancados, litros de sangue e entranhas espirrando na tela. Pouco ou nada se fala sobre a sua extraordinária atmosfera gótica. Sim, gótica. E, no caso de Terror nas Trevas, até mesmo southern gothic, com sua ambientação numa Louisiana de sonho, com mansões senhoriais decadentes, cenários em sépia e porões que, do nada, se tornam criptas (rimando com as ruas cobertas de névoa da Dunwich do filme anterior). Por mais que pareça contra-intuitivo associar o splatter ao horror gótico, eu diria que é justamente esse estranho mix de beleza melancólica e horror visceral (associados à imponderabilidade de uma narrativa onírica e quase abstrata) que eleva o trabalho de Fulci acima daquele vale-tudo que dominaria os anos 80. Seus filmes são atravessados por um senso de ameaça que é ao mesmo tempo física e espiritual. Os fantasmas de Fulci sangram e, de algum modo, ainda podem morrer. Os vivos, a qualquer momento, podem se perder num limbo onde até a dor seria preferível ao vazio. E a realidade, tal qual a conhecemos, se revela uma coisinha frágil e quebradiça, como um corpo, tão fácil de ferir, cortar e desmembrar. Quando Emilly vaga cega por uma sala escura cheia de zumbis e implora para "não voltar", não sabemos exatamente do que ela está falando (diabos, não sabemos sequer se ela está viva ou morta!) mas a angústia nos toma mesmo assim. De alguma forma, também não queremos voltar, seja lá para onde (ou DE onde). E essa é a mágica desses filmes. Eles evocam algo de indefinível, um tipo de horror metafísico que se realiza, simultaneamente, na carne E no espírito e não pode ser verbalizado, apenas demonstrado... seja pelo gore ou pelo gótico.
de Lucio Fulci
com Catriona MacColl, Paolo Malco, Ania Pieroni, Silvia Collatina, Daniela Doria, Dagmar Lassander, Giovanni De Nava, Gianpaolo Saccarola, Giovanni Frezza, Carlo De Mejo, Teresaossi Passante
A Casa do Cemitério é com certeza o filme mais destoante da Gates of Hell's Trilogy, o que não é tão estranho se lembrarmos que esses filmes não foram originalmente concebidos como uma trilogia, só agrupados dessa forma a posteriori por sua unidade conceitual e estilística (e pela presença de Catriona, sem dúvida🥰), mas não deixa de ser um fator adicional de desconcerto. Não há livros malditos ou mesmo portais para o inferno (ainda que haja quem force a barra tentando interpretar o porão da casa dos Boyles como um desses portais, mas não há nada no roteiro que sequer insinue isso) e até as inspirações literárias de Fulci e do roteirista Dardano Sacchetti, que considerava esse o seu filme favorito da trilogia, se deslocam (ligeiramente) de Lovecraft para... Henry James! Pois é, A Casa dos Mortos Vivos (como era mais conhecido na era do VHS) é um filme sobre horrores de infância, decerto não tão sutil quanto Os Inocentes mas, a seu modo, igualmente misterioso. Fulci, como sempre, não está interessado em explicações, apenas insinuações, deixadas propositalmente no ar quando o filme termina. Por que todos parecem reconhecer o Sr. Boyles ainda que ele nunca tenha estado na cidade? Qual é a da babá que fica observando todo mundo com aquele ar de quem sabe tudo (mas morre sem revelar nada)? E a menininha? Está mesmo viva ou é um fantasma? E quem diabos era esse tal de Dr. Freudstein e o que ele fez, afinal? Nada disso importa. Ao menos não para uma criança. Tudo o que importa é que tem alguma coisa escondida no porão. Algo físico o bastante para machucar (e muito!), mas que nem sempre pode ser visto. Algo que se arrasta, lentamente, em sua direção, chora com voz de criança e tem o coração cheio de vermes. Se ele te pegar... é o fim. E é isso. O resto é coisa de adulto.😉
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