terça-feira, 13 de outubro de 2020

Espanando o Parafuso...


Ao final de A Maldição da Mansão Bly tudo o que eu conseguia pensar era como pode ter vídeo de "final explicado" no youtube pra essa série?

O que mais há pra explicar? A maior parte dos nove episódios é dedicada a explicações. Explica-se tudo. O tempo todo. Cada detalhe, cada mistério (até quando nem é mistério). Tudo é esclarecido e esmiuçado mais de uma vez.

Os personagens não dialogam, eles explanam, longa e articuladamente, sobre o que sentem, o que pensam, o que são, tomando o máximo de cuidado para não deixar a menor margem de dúvida em quem assiste (e se algo acabar escapando, temos a narradora pra explicar tudo de novo). Chega a ser nonsense. A certa altura me peguei rindo da carinha desolada de uma personagem ouvindo alguém contar toda a história de vida com um ar de quem pensa: "mas a gente não vai se pegar?"

E a ironia é que aquilo que faz de A Volta do Parafuso um clássico é justamente NÃO EXPLICAR! A mansão é mesmo assombrada? A preceptora está delirando? As crianças escondem algo? O que querem os fantasmas, se é que existem? O que de fato aconteceu em Bly?

Tudo isso é conosco. Ou deveria ser. Mike Flanagan nos nega essa chance. Sua obsessão por controle (ou vontade de ser Stephen King, sei lá) é tanta que chega a se valer de outra história de Henry James, O Romance de uns Velhos Vestidos, para "explicar" Bly! E, no processo, disseca o conto até reduzir tudo a um tipo de maldição de J-Horror, um mecanismo narrativo para arrematar cada ponta solta (ou nem tão solta) que ainda pudesse restar em The Turn of the Screw.

Não me entendam mal, não é que eu tenha detestado a série (ou nem falaria dela), há calor humano, o elenco é fofo e eu assistiria fácil um filme inteiro só com a dupla Victoria Pedretti e Amelia Eve. É só que... qual o sentido? Pra que se apropriar de um clássico caracterizado pela ambiguidade se você mal acredita que sua plateia será capaz de entender nem mesmo a história que DE FATO quer contar?

Enfim, ao menos sempre teremos Os Inocentes (1961). Ainda que num mundo que não dê conta de nada minimamente dúbio, um mundo que acredita que ghost story e love story "dá na mesma", precisarão de "final explicado" pra ele também.

Da próxima vez, que tal deixar os clássicos em paz e fazer uma série só pra elas.😉💖




4 comentários:

  1. Sem contar que o romance delas é uma versão de terror de Imagine Me and You (que filme lindo, aliás).

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    1. Vou ter que assistir "Imagine Me and You" agora, será?🤔

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  2. Lorde, não deixo de me perguntar o que você achou de "Missa da Meia-Noite". Flanagan conseguiu "se redimir", na sua opinião?

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    1. "Missa da Meia-Noite" meio que confirma o meu ponto em relação ao Flanagan. Disparado é a melhor coisa que ele fez para o Netflix e, não por acaso, era um roteiro original, não uma adaptação. Porém, contudo, entretanto, todavia... se alguém me dissesse que "Missa da Meia-Noite" era um livro do Stephen King eu acreditaria.🤔 O tipo de história, os personagens, a cadência, tudo ali lembra o King. A grande obsessão do Flanagan é ser Stephen King! E tudo bem, cada um com seus fetiches, mas então que adapte Stephen King, e não Shirley Jackson, Henry James e Edgar Allan Poe. Minha bronca é ele se apropriar da obra de autores clássicos e entregar algo que não parece nem um pouco com essas obras, exceto nos nomes dos personagens e uma ou outra situação ou ambientação. Sério, fiquei de cara com "A Queda da Casa de Usher". A trama simplesmente não tinha NADA a ver com Poe, só era recheada de elementos randômicos pinçados dos contos, em geral da forma mais óbvia e rasteira, por vezes até desajeitada (fiquei coçando a cabeça metade da série pensando que diabos o Arthur Gordon Pym teria a ver com aquele advogado fuinha; aí, lá pelas tantas, me soltam aquela do "Ah, quando jovem ele foi navegador e tal", meu... que coisa mais preguiçosa e cara de pau!🤭). Enfim, espero que agora que saiu do Netflix, o Flanagan repense as suas estratégias e volte a ter aquela pegada dos seus primeiros filmes ("Missa da Meia-Noite" já foi meio que algo assim), ou então, se ele quer mesmo emular King, então que adapte outras obras do King ("Jogo Perigoso" foi fenomenal, e até gostei do "Doutor Sono", por incrível que pareça😅) ao invés de ficar se metendo com clássicos que, na real, nem lhe interessam de verdade... exceto como clickbait...😜 (P.S. Só pra constar, curti bastante o "O Clube da Meia-Noite", só não consigo entender como é que um cara que se especializou em fazer MINI-séries, resolve deixar pontas soltas justamente numa série que é sobre crianças que estão morrendo!🙄 Puta oportunidade perdida de fazer uma mini bonitinha e fechadinha, ao invés de uma série sem final, cancelada na primeira temporada.😒)

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