quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O Que é um Fantasma?


Comprei um livro no sebo dias atrás. Uma edição antiga de O Mistério do Dr. Fu Manchu, de Sax Rohmer, publicada pela Francisco Alves no distante 1985. Sentei pra ler a apresentação, porque sou do tipo que SEMPRE lê apresentações, prefácios, introduções e por aí vai.

Mas, dessa vez, um inesperado estranhamento começou a se imiscuir nesse ato tão corriqueiro, uma... doce melancolia começou a me tomar ao ler a assinatura no fim da apresentação. Era só um nome e uma data, mais nada. Nenhuma informação. Mas era uma apresentação excelente, com insights que eu nunca tinha lido ou pensado mesmo com a quantidade absurda de informação que temos na nossa hipertrofiada cultura online. Me peguei imaginando... quem teria sido aquela pessoa? Estaria vivo? Morto? Era um escritor? Um jornalista? Um professor? Ou apenas um quase anônimo diletante cuja paixão tornara suficientemente digno para ser convidado (e pago) para escrever aquela apresentação?

Nunca tinha refletido antes sobre esse tipo de coisa e a razão pra fazê-lo naquele momento era bastante óbvia: um dia, daqui a dez, vinte anos, alguém vai encontrar no sebo um exemplar de Quinteto de Assombros, da Editora Penalux, e se perguntar quem diabos era esse tal de Rodrigo Emanoel Fernandes?

Que estranho pensamento... Ainda mais considerando que o tema da minha apresentação era justamente... fantasmas!

Nada disso me passou pela cabeça quando o nobre Wilson Gorj me convidou para essa pequena aventura, apenas um grato e cauteloso orgulho por esse quase anônimo diletante ser considerado suficientemente digno para tal tarefa (especialmente nessa área, que nada tem a ver com a minha formação, mas sim com meu coração).

E para além dos devaneios se o link para o blog sob a minha assinatura ainda estará ativo daqui a 20 anos (mesmo que EU não esteja), o que me fica é a voz do velho Jorge Luis Borges refletindo sobre a única imortalidade que lhe interessava: tornar-se um elemento da linguagem, talvez um axioma, um insight "e que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante... não me importa".


Algernon Blackwood, Amelia B. Edwards, Edgar Allan Poe, E. F. Benson & Washington Irvin

Tradução: Chico Lopes 
Texto de orelha: Luiz Roberto Guedes
Prefácio: Rodrigo Emanoel Fernandes
Revisão: Marcos Vinícius Almeida

Ano: 2019 / Páginas: 108

2 comentários: