terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Mas... não é o filme da Sandy?!


Aproveitando o movimento "o cinema brasileiro em cartaz" desencadeado pela aberrante retirada dos cartazes de filmes brasileiros da ancine, queria fazer um pequeno desabafo sobre um filme que, pra mim, é uma das melhores (e mais injustiçadas) obras do horror brasileiro já produzidas: o belíssimo Quanto Eu Era Vivo, de 2014.

Nem sou eu que estou dizendo, a maioria dos críticos que se prezam não hesitaria em concordar comigo, no máximo com algumas ressalvas, mas mesmo que não fosse o caso o filme de Marco Dutra tem todos os elementos para encantar um fã de horror gótico como eu: a ambiguidade entre o delírio e o sobrenatural, a opção de sugerir mais do que afirmar, fantasmas do passado determinando o rumo dos vivos, uma narrativa contida e sóbria onde o fantástico vai aflorando aos poucos até um desfecho enigmático e arrebatador.

Enfim, uma obra que não deixa nada a dever ao melhor do horror mundial sem deixar de ser profundamente brasileira, com seu sufocante apartamento de classe média paulistana assombrado, coberto de objetos que ressoam fundo em quem viveu a infância nos anos 80/90 (inclusive evocando o existencialismo urbano a la Walter Hugo Khouri).

PORÉM, quando tento recomendar essa joia para fãs de cinema em geral, quase sempre alguém solta: "Mas não é o filme da Sandy?!"

Aí fudeu! Nada mais que eu diga faz diferença! Instantaneamente o filme passa a ser o "filme da Sandy" e já era! Se eu ainda ousar insinuar que a presença dela FUNCIONA, que o filme se vale da própria persona da Sandy como um ícone dos anos 90 (positivo ou negativo, tanto faz) para potencializar a ressonância macabra do seu surreal clímax, aí começam as risadas e até meu senso crítico é colocado em questão!😡

Por isso acabo preferindo argumentar (mesmo achando injusto) que o filme merece uma chance "apesar" dela. Cito Antônio Fagundes, Marat Descartes, Gilda Nomacce, etc. Mas mesmo quando essa tática funciona acabam assistindo de forma enviesada, com predisposição a não gostar... e aí fica difícil. E eu (que nem ligava pra Sandy Leah) fico tentando entender como é possível um grande filme ser jogado fora por causa de UM elemento?! E lamentando tamanho desperdício.😞



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