quinta-feira, 10 de junho de 2021

Tomando um Vinho com Edgar Allan Poe...


É curioso como o velho Edgar Allan Poe parece ter uma tendência maior de ser usado como personagem de ficção do que as demais autoras e autores da ficção gótica clássica e da literatura de horror em geral. Você não vê o tio Lovecraft aparecendo por aí em tantos livros e filmes, pode ter certeza (no momento em que escrevo só lembro do bobinho Necronomicon de 1993 e do interessante La Herencia Valdemar de 2010 onde, à propósito, Bram Stoker e Aleister Crowley também davam o ar da graça).

Acho que só Mary Shelley poderia disputar com Poe em número de aparições nas telas desde que Elsa Lanchester tricotou seu bordado em A Noiva de Frankenstein, mas o célebre poeta de Baltimore ainda ganha um destaque adicional pelo caráter um tanto mais específico com que o "personagem Poe" costuma ser utilizado na dramaturgia dos enredos, quase sempre como uma espécie de mentor ou conselheiro, o "parceiro de copo" que oferece um ouvido amigo ao atormentado protagonista e o orienta nos próximos passos de sua jornada (ao mesmo tempo em que consomem quantidades insalubres de vinho barato, seco e amargo como a vida, naturalmente).

É um papel que tanto pode ser preenchido pela figura histórica de Poe, tipo o Silvano Tranquilli em Danza Macabra de 1964 (ou Klaus Kinski no remake Web of the Spider de 71) quanto por seu fantasma, o que não deixa de soar bastante apropriado. No romance Nevermore (Mestres do Mistério no Brasil), publicado em 1994 por William Hjortsberg, o espírito de Poe aparece regularmente pra ninguém menos que Arthur Conan Doyle, fornecendo as pistas que ajudarão o renomado escritor espiritualista e seu "parceiro" cético Harry Houdini a desvendar um caso de murder mystery que teria desafiado até mesmo os talentos combinados de Sherlock Holmes e Auguste Dupin!

Mas nessa brincadeira de retratar Poe como um misto de "filósofo de boteco" com "Obi Wan Kenobi gótico", nada supera Ben Chaplin ensinando a Filosofia da Composição para o decadente Val Kilmer no delicioso (e amplamente subestimado) Twixt de Francis Ford Coppola. Tá aí um filminho que merece revisões mais cuidadosas (e mais sagazes) do que costuma receber.

Não que o tio Coppola dê a mínima se você gosta ou não.😜



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