sábado, 25 de junho de 2022

(Re)Assistindo: Dois Góticos de Stephanie Rothman

Blood Bath (1966)
com William Campbell, Marissa Mathes, Lori Saunders, Sandra Knight, Karl Schanzer, Biff Elliot, Sid Haig, Jonathan Haze, Patrick Magee

O Rastro do Vampiro pode ser considerado um pequeno milagre. É espantoso que uma colcha de retalhos como essa tenha resultado num filme tão gostoso de assistir, verdadeiro sumo dos anos 60, delirante, surreal e deliciosamente esquisito, cheio das soluções cênicas inusitadas e imagens de uma beleza hipnótica e desconcertante. Enredo? Não, o enredo é puro nonsense.😅 E nem teria como ser diferente num projeto que começou com o Roger Corman comprando os direitos de um obscuro thriller de espionagem iugoslavo (um tal de Operation Titian) e passando para o Jack Hill "americanizar" com filmagens adicionais e uma reestruturação geral da montagem. No fim, o tio não gostou e não lançou o Portrait in Terror resultante, jogando a batata quente para a sua então pupila, Stephanie Rothman, "reestruturar a reestruturação". Chega a ser difícil saber até onde vai a contribuição de cada cineasta para a versão final, mas eu tendo a crer (e que fique claro, é só uma crença) que o toque de Rothman teve um papel mais do que determinante no fascínio e estranheza que esse bizarro vampire movie nos causa, e digo isso principalmente por conta de seu cult horror posterior, o deslumbrante (e injustamente subestimado) The Velvet Vampire de 1971.🖤 Seja como for, essa é uma pérola que simplesmente precisa ser (mais) conhecida. Um filminho de pouco mais de uma hora, mas que tem (quase) tudo o que se poderia imaginar de um horror gótico sessentista de baixo orçamento. Um pouco de expressionismo, um tanto de art house, beatniks, um artista plástico vampiro que muda de rosto, maldições ancestrais, uma pitadinha de museu de cera e até uma penca de donzelas góticas mortas-vivas!🤯 E toda essa doideira ainda consegue, de algum modo, nos parecer... harmoniosa. Se não na narrativa, sem dúvida no estilo e na atmosfera. E é gostoso demais de assistir.🤗 Precisa mais?😉


The Velvet Vampire (1971)
de Stephanie Rothman
com Celeste Yarnall, Michael Blodgett, Sherry Miles, Gene Shane, Jerry Daniels


Como não se apaixonar por uma vampira que atende pelo nome de Diane Le Fanu?🖤 Tá certo que sou meio suspeito pra falar, afinal tenho um dossiê de sei lá quantas páginas no blog sobre as adaptações de Carmilla,😁 mas o diálogo aqui na verdade nem é tanto com o clássico de Sheridan Le Fanu (a não ser como uma influência, digamos assim, espiritual), mas sim com Daughters of Darkness, de 1971, e toda a onda lésbico-vampírica que tomou o euro-horror de assalto no começo dos anos 70. E isso de forma bem assumida, a diva vampira de Celeste Yarnall até usa o mesmo tipo de figurino que Delphine Seyrig usava no filme de Harry Kümel e, como ela, tem num casal moderninho e liberal o seu principal foco de... interesse.😏 Algo mais pra bisexual vampire do que lesbian vampire, se for parar pra pensar.😅 Mas o filme de Stephanie Rothman ainda tem um diferencial na exótica ambientação do ensolarado deserto californiano, uma pegada quase weird western que cria um curioso contraste com sua atmosfera surreal de inspiração pra lá de psicodélica. De fato, é acima de tudo um filme de contrastes, aparentemente irreconciliáveis. Um vampirismo "solar" que se equilibra graciosamente entre o exploitation e o art house, entre a cafonice apelativa e as vanguardas sócio-culturais do período, infiltrando um bocadinho de feminismo nas grindhouses e drive-ins e um bocadinho de softcore nos cinemas de arte e circuitos alternativos. O tipo de receita perfeita tanto para o fracasso comercial (nem o espertalhão do Roger Corman soube como vende-lo adequadamente na época) quanto para uma consagração póstuma como um cult movie daqueles dignos de incontáveis revisões nas madrugadas malditas regadas a vinho e, talvez, outros aditivos não tão impunemente confessáveis nas redes sociais.🤫 O que não deixa de soar estranhamente apropriado para qualquer vampire movie experimental setentista que se preze.😉 Salud, Miss Rothman.🍷



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