Mas mesmo que adaptações mais fiéis tenham surgido, The Resurrected (também conhecido como "Shatterbrain") ainda merece destaque por ser o filme que melhor traduz o estilo e a atmosfera dos escritos de Lovecraft. A coisa vai além de fidelidade à trama em si, aqui todos os elementos marcantes do escritor estão presentes de uma forma ou de outra: a grandiloquência (até a trilha sonora over parece remeter aos adjetivos de que Lovecraft tanto abusava), o tom permanentemente grave da narrativa, sem margem para a menor sombra de humor (por mais que Dagon, Do Além e Re-Animator mereçam ser tão celebrados pelos fãs, nunca os considerei verdadeiramente fiéis justamente por conta do humor) e a temática da exploração de conhecimentos obscuros cujo contato leva à loucura e/ou à monstruosidade. Até mesmo o mais do que questionável racismo do escritor é perceptível, ainda que, felizmente, só nas entrelinhas. Mesmo as adaptações mais bem sucedidas não costumam ser tão "lovecraftianas", embora existam alguns filmes que não são adaptações oficiais de nenhum conto específico, mas são extremamente fiéis à essência do autor, como À Beira da Loucura, O Enigma do Outro Mundo (ambos de John Carpenter), Alien, o Oitavo Passageiro (cujo roteiro foi co-escrito por Dan O'Bannon, diretor de The Resurrected) ou Cthulhu, de Dan Gildark.
Por fim, é bom lembrar que não estamos falando aqui de uma obra-prima, nem de um filme que tenha revolucionado o cinema de alguma forma. Estamos falando de um honesto e direto filme de horror, cujo único objetivo (além de adaptar Lovecraft) é ser o mais assustador possível e nisso se sai super bem. É uma trama de mistério, uma história de detetive que pouco a pouco se aprofunda no sobrenatural, um filme sobre a escuridão e sobre as coisas que se escondem na escuridão (sim, há monstros escondidos nas trevas, tal como você suspeitava na infância). Os efeitos especiais, é claro, envelheceram bastante, mas é curioso como os efeitos old school baseados em maquilagem, animações quadro a quadro, látex e demais substâncias físicas envelhecem muito melhor do que qualquer CGI.
Não era fácil conseguir um release aceitável desse filme. Saiu em VHS no Brasil como Renascido das Trevas e reza a lenda que saiu em DVD também como Filho das Trevas, mas eu nunca vi nem sombra, exceto como esgotado nos sites de vendas. Os DVDrips que circulavam por aí costumavam ser bem ruins e as vezes até com o Aspect Ratio errado. Felizmente o bluray apareceu, e me dei ao trabalho de corrigir a tradução porca que existia da legenda e arrumar a sincronia para os releases em HD que forem surgindo.
Recomendo... e nunca esqueçam os fósforos em casa, nunca se sabe quando vão precisar.
Esse filme merecia ser mais conhecido, uma vez que temos na direção Dan O'Bannon.
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