segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Penny Dreadful - Redescobrindo o Horror Gótico do Século XIX



“... e quem diria que o velho ainda tinha tanto sangue dentro de si?” (Macbeth)
Faz muito sentido pra mim que a série de TV britânica Penny Dreadful tenha estreado no mesmo ano em que a americana True Blood se despediu. Não que haja uma simetria tão exata na oposição entre as duas produções, mas não deixa de ser um fato curioso. Com todos os seus (poucos) acertos e (muitas) falhas, True Blood me parece o ponto culminante de uma (já não tão) moderna abordagem dos monstros clássicos da literatura e do folclore europeus que começou a ser gestada no final dos anos 70, com a decadência dos estúdios de cinema britânicos como a Hammer Films, a Amicus Productions e a Tygon, os últimos a beberam direta e sistematicamente da literatura do século XIX para dar vida às suas produções.

Eva Green, como Vanessa Ives,
o "coração" de Penny Dreadful.
O cinema de ambos os lados do Atlântico sugou dessa fonte até o esgotamento durante toda a sua história, desde que o horror se estabeleceu como gênero cinematográfico com os clássicos monstros da Universal nos anos 30 e 40 e mesmo antes disso, com o expressionismo alemão. Depois de décadas de adaptações, continuações, variações e pastiches, os vampiros, lobisomens, o velho e bom Dr. Frankenstein, tornaram-se principalmente alvo de paródias em meio ao cinema de horror furioso e hiper-realista dos anos 70, muito mais antenado ao zeitgeist do período. Claro que não demorou para o sangue e as tripas ganharem valor per si e seguirem um previsível caminho em direção à farsa, característica dos anos 80 e 90. Mas os velhos monstros, como se sabe, são bem difíceis de matar. Em 1976 a escritora americana Anne Rice apontou um novo caminho na forma do romance Entrevista com o Vampiro. Nele, os velhos vampiros, que já nos pareciam tão excessivamente familiares, foram elevados à condição de protagonistas, revelando assim que, no fundo, sabíamos pouco sobre eles. Ao invés de vislumbrados de relance e/ou através dos testemunhos de suas vítimas, aqui era o próprio vampiro Louis que nos contava sua história, revelava seus temores, dúvidas e esperanças, enquanto nós, meros mortais, é que éramos os vislumbres e fantasmas do mundo das criaturas da noite. Mais do que uma nova abordagem para o mito do vampiro, Rice acabou ajudando a popularizar uma nova tendência para as releituras de todo o panteão de criaturas folclóricas. Lobisomens, bruxas, fadas, demônios, todos tiveram chance de contar sua própria história, em inúmeras variações.

O elenco de Penny Dreadful, em foto promocional: Danny Sapani (Sembene); Reeve Carney (Dorian Gray); Billie Piper (Brona Croft); Josh Hartnett (Ethan Chandler); Timothy Dalton (Sir Malcolm Murray); Eva Green (Vanessa Ives); Rory Kinnear (Caliban) e Harry Treadaway (Dr. Victor Frankenstein)



Acredito que True Blood deixa bem claro que o círculo está se fechando. A outrora nova abordagem se desgastou e acabou deixando evidentes seus limites e equívocos. True Blood nos deu de tudo, vampiros, lobisomens, transmorfos, fadas, feiticeiras, deuses, demônios, o diabo a quatro... todos, ao fim e ao cabo, aborrecidamente indistinguíveis (exceto por seus respectivos "super poderes"), transparentes demais, "humanos demais". E se a série ainda conseguiu se manter divertida apesar de tudo, foi justamente porque assumiu sua própria farsa, admitiu sem nenhuma vergonha que tudo o que restava da tendência iniciada com a senhora Rice era a auto-paródia, a última fronteira possível quando os velhos monstros já foram tão expostos que não lhes restava mais nenhum mistério, pateticamente despidos na luz (em alguns casos, literalmente). E, como é óbvio, luz demais nunca fez muito bem ao gótico.

"Arcane, talvez você tivesse razão de morrer daquele jeito. É um mundo novo, cheio de shoppings, iluminação dirigida e telas de computador. Os cantos escuros perdem espaço, um pouco mais a cada dia. Somos das sombras, você e eu... e não há mais tanta sombra como antigamente. Talvez tenha havido um mundo para chamar de nosso, talvez encravado na Europa de outrora, no século quinze, quando o mundo era cheio de sombras, cheio de monstros. Mas não mais. Entes como nós não sobrevivem sob a luz. Talvez você tenha percebido isso, Arcane, no último momento. Talvez tivesse razão, talvez estejamos melhor mortos. Talvez o mundo não tenha mais lugar para monstros... ou talvez os monstros apenas tenham ficado mais difíceis de distinguir." (Alan Moore - A Saga do Monstro do Pântano, Vol.1)

Capa de "Varney the Vampire",
um legítimo "Penny Dreadful".
Diante desse esgotamento, eu tenho a impressão de que está havendo uma redescoberta do potencial do "novo" nos "velhos" e (até bem pouco tempo) desprezados clichês do gótico old school. Penny Dreadful, criada para os canais Showtime e Sky, deixa claro desde o título sua aliança com uma tradição de horror muito antiga, com a própria base da literatura gótica como a conhecemos. Pra quem ainda não sabe, os penny dreadfuls eram publicações periódicas baratas e rasteiras, feitas em papel de péssima qualidade, para abastecer a classe trabalhadora inglesa com entretenimento agressivo e lascivo, histórias macabras e violentas sobre monstros, assassinos e incontáveis horrores, uma válvula de escape para vidas sofridas e sem perspectivas, marcadas pelo pesadelo da industrialização avançando muito mais rápido do que os diretos humanos e leis trabalhistas. O sexto episódio da série cita abertamente essas publicações, quando (num toque metalinguístico genial para bons entendedores) o Prof. Van Helsing (uma deliciosa participação especial de David Warner) usa um exemplar de "Varney, o Vampiro" para explicar as particularidades dos desmortos ao perplexo Dr. Frankenstein.

Devo admitir que, se não fosse pelo título, a premissa básica de reunir num mesmo universo trocentos personagens da literatura fantástica em domínio público não teria sido suficiente para me chamar a atenção. Tais misturas já se tornaram uma espécie de fórmula, presentes em uma porrada de livros, filmes, séries e quadrinhos por aí (os exemplos mais célebres e bem sucedidos seriam A Liga Extraordinária e Anno Dracula), mas ao chamar a série especificamente de Penny Dreadful, um termo tão arcaico, até então conhecido apenas de um pequeno grupo de interessados nas origens do gótico e do macabro, John Logan, showrunner e roteirista de todos os oito episódios da primeira temporada, parecia estar enviando uma espécie de sinal para bons entendedores, um convite (como diria Miss Ives)... e uma promessa.


Vinheta de abertura de Penny Dreadful.

E a promessa foi cumprida com finesse, pompa e estilo! Penny Dreadful abraça a temática, a estética e os clichês do gótico old school de forma apaixonada, sem pudores, sem caricaturar ou fingir estar fazendo outra coisa, sem dar piscadinhas espertas pra audiência como quem diz: "calma, vamos tornar isso mais moderninho". Lá estão os cenários enevoados da Londres na Era Vitoriana, com seus lampiões a gás, palacetes aristocráticos, casas de ópio, atracadouros sinistros e ruas ainda assombradas pela lembrança dos crimes de Jack, o Estripador. Lá estão os personagens amaldiçoados, obcecados e melodramáticos tão típicos do romantismo, os diálogos deliciosamente eruditos, carregados de subtexto e jogos de palavras, as interpretações não-naturalistas. Toda aquela atmosfera decadente de segredos inconfessáveis e prazeres corrompidos, aquela sensualidade reprimida sempre prestes a explodir em devassidão. Algo tão fundamental na literatura gótica clássica, mas que o cinema dos anos 30, ou mesmo dos anos 60, não podia se atrever a fazer mais do que insinuar (exceto, claro, pelo cinema gótico italiano e francês, mil vezes mais ousado do que os pudicos ingleses e americanos).

O horror de ser um vampiro.
E, acima de tudo, o horror! O horror em sua forma mais pura, quase arquetípica. Pra começo de conversa é uma delícia ver o horror gótico tratado com seriedade e dignidade, sem a menor sombra de humor, a não ser o mais negro (aquele que só causa risos nervosos, se é que me entendem). Nada contra as abordagens mais "irreverentes", eu mesmo admito que me diverti acompanhando True Blood durante esses sete anos, também achei as primeiras temporadas de Supernatural bacaninhas como diversão bocó e morro de rir com o cinismo descarado de American Horror Story e seu nonsense gore over do over... mas, até por esses exemplos, é possível perceber que o mercado está saturado de "terror metido a engraçadinho", ao menos no que se refere ao registro do fantástico (apenas as séries de horror realistas, com seus psicopatas, parecem se levar a sério). Assim, é um deslumbre ver que Penny Dreadful não é um pretexto para uma variação "descoladinha" dos personagens da literatura gótica clássica. Ao contrário, Logan e seus colaboradores parecem de fato compreender algo que o cinema e mesmo a literatura de horror atuais, derivados de tantas tentativas de modernização do gênero, parecem ter esquecido ou ao menos perdido a perspectiva: "dar medo" não é o objetivo primordial do horror (muito menos "dar sustos", obsessão do cinema pipoca americano, como o termo jump scare movie deixa evidente). "Dar medo" é algo muito vago, muito relativo. Algumas pessoas dizem que um filme de horror é ruim porque "não deu medo" enquanto outras, vendo o mesmo filme, afirmam nunca ter sentido tanto medo na vida. Não, "dar medo" é apenas um dos elementos que compõem o coquetel de temas e emoções que o horror explora. O verdadeiro coração do gótico é a melancolia. A angústia perante os mistérios da vida e da morte, da existência ou não de algo além, da condição humana, enfim, encarada em seus aspectos mais sombrios. As matérias primas do horror são a culpa, o arrependimento, o pesar, a carência, a maldade, os sentimentos ruins que machucam, os venenos do espírito. Daí emergem os fantasmas, demônios, vampiros... e, em consequência, o medo. Não o medo dos monstros em si, mas daquilo que representam: o memento mori. O gótico é um coração partido.

"Acredita que exista um "demimonde", Sr. Chandler? Um mundo escondido entre o que sabemos e o que sentimos, um lugar nas sombras, raramente visto, mas profundamente sentido. Acredita nisso? (...) Era lá que estávamos noite passada. Onde infelizes almas são amaldiçoadas a viver eternamente. Se acreditar em maldições, é claro." (Vanessa Ives)

Penny Dreadful combina personagens inéditos com ícones extraídos de ao menos três indiscutíveis clássicos da literatura inglesa do século XIX: Frankenstein, de Mary Shelley, O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde e Drácula, de Bram Stoker, mas não se prende aos enredos dos livros, preferindo recombina-los numa trama original, o que aproxima a série mais da abordagem de Anno Dracula do que de A Liga Extraordinária. Criativamente é bastante estratégico, pois libera o roteiro de uma camisa de força que, a longo prazo, o estrangularia, mas também faz sentido conceitualmente. Afinal, se todos esses personagens habitassem um mesmo universo, ao invés dos microcosmos de seus respectivos romances, sua própria influência mútua deveria ser suficiente para alterar suas trajetórias. Assim, embora os conceitos essenciais se mantenham intactos, como a obsessão do jovem Dr. Frankenstein em desvendar os mistérios da vida a partir dos despojos da morte ou a erudição do Prof. Van Helsing em temas do oculto, o interessante acaba sendo, justamente, ver como essa inesperada amizade resignifica os aspectos arquetípicos de ambos, como esses diferentes temas do gótico se mesclam, se sobrepõem e se rearmonizam (ou desarmonizam).

- Você parece ter mente aberta o bastante para imaginar um mundo liberto daquilo que achamos ser verdade.
- Quer dizer o sobrenatural?
- Quero dizer o lugar em que ciência e superstição andam de mãos dadas. (Diálogo entre Sir Malcolm e Victor Frankenstein)

Essa abordagem pode soar desrespeitosa para um fã mais intransigente (Logan já até admitiu que o inesperado assassinato de um personagem clássico pelas mãos de outro foi uma provocação proposital), mas numa expectativa menos fundamentalista, as possibilidades dramáticas se mostram empolgantes. Os enredos desses livros talvez já tenham se tornado familiares demais até pra quem não é fã de horror, mas sua temática, sua essência, tão vinculada à nossa experiência coletiva como seres mortais de carne e sangue, essa sim é inesgotável e nem sempre abordada com o devido cuidado em adaptações diretas. Ainda que o plot seja inédito, os personagens clássicos que surgem em Penny Dreadful estão muito mais de acordo com suas origens do que em grande parte das adaptações e, ironicamente, no contexto atual isso parece torna-los mais "originais" do que nunca. Acho provável que muitos se surpreendam e (espero) se encantem com um monstro de Frankenstein que não apenas é capaz de falar, como se expressa em termos filosóficos num inglês erudito e refinado, um anjo caído de feições sinistras e potencial para rompantes de extrema violência, porém motivados por um profundo desespero: a angústia (tão humana) de reconhecer-se só e único num universo que não compreende, porém (diferente de nós) capaz de confrontar seu próprio criador e exigir-lhe sentido e responsabilidade. Essa é a essência do romance original escrito a mais de cem anos pela jovem senhora Shelley, mas em nome do espetáculo e da verossimilhança (claro que é inverossímil o monstro recém nascido aprender a ler filosofia, mas verossimilhança é um conceito superestimado pelo cinema de massa) quase sempre é deixada de lado pelas adaptações que, via de regra, preferem lidar com um monstro mudo e estúpido. Não quero dizer com isso que são adaptações desprezíveis, mas sim que a rica amalgama que Logan organiza permite que a ênfase em Penny Dreadful possa ser nos aspectos que realmente importam nesses personagens e temas clássicos, para muito além dos meros enredos. Uma profundidade insuspeitada na abordagem gótica que parecia tão esgotada no final dos anos 70.

Não admira que fugiu de mim. Não sou uma criação do mundo pastoral antigo. Sou a modernidade personificada. Será que não sabia o que estava criando? A era moderna. Realmente imaginava que sua criação moderna iria se ater aos valores de Keats e Wordsworth? Somos homens de ferro e mecanização agora. Somos motores a vapor e turbinas. Era realmente tão ingênuo de imaginar que veríamos a eternidade em um narciso-amarelo? (Caliban, o monstro de Frankenstein)

Acredito que será surpreendente pra muitos constatar o quão "originais" se tornam os vampiros quando trazidos mais próximos de suas origens. Mesmo que com alguns aspectos incomuns (como sua identificação com a mitologia egípcia, criando um vínculo interessantíssimo com os temas da egiptologia, tão populares entre apreciadores do gótico nos anos 30), os desmortos de Penny Dreadful se afastam ao máximo do modelo "annericeano", voltando a evocar o profundo horror que a população rural do leste europeu sentia diante da possibilidade de que seus mortos (muitas vezes enterrados nos limites das propriedades) se arrastassem até suas janelas a noite, implorando para entrar. São esses os vampiros que inspiraram StokerSheridan Le Fanu e Francis Marion Crawford. Cadáveres reanimados, ocultando-se em caixões cheios de terra e porões infectos, ainda que ocasionalmente capazes de simular a vitalidade perdida para seduzir suas vítimas. Penny Dreadful também resgata um elemento de "Drácula" que foi pouco explorado ou mesmo ignorado por quase todas as adaptações, uma perturbadora espécie de misoginia sobrenatural, clãs de vampiros compostos por um único "mestre" masculino seguido cegamente por dezenas de vampiras pálidas desprovidas de vontade própria (o que nos remete, claro, às três irmãs que seduzem Jonathan Harker). Mina Murray, assim como no livro, é uma dessas mulheres escravizadas e corrompidas, mas nessa versão ela também é filha do aristocrático explorador Sir Malcolm Murray, impecável atuação "maior do que a vida" de Timothy Dalton, encarnando o arquétipo do "grande caçador branco" típico da literatura e cinema clássicos, amoral, implacável e provido dos recursos e tenacidade necessários para caçar a criatura que sequestrou sua filha até os confins do mundo, se necessário. Essa busca será o ponto de partida onde convergirão personagens, literários ou inéditos, que adensam em si diferentes aspectos do horror gótico, pessoas permanentemente maculadas por tragédias e forças sobrenaturais, desde possessões demoníacas até licantropia.

Banners promocionais com os protagonistas de Penny Dreadful.








Entre eles estão o já citado Dr. Frankenstein (Harry Treadaway), que "não teme abrir a pele e olhar o que tem dentro" e o americano Ethan Chandler (Josh Hartnett), homem de muitos mistérios (um dos quais evidente desde o episódio piloto para os mais atentos), "grande violência e profundidades ocultas", cuja capacidade de empatia para com seus novos e pouco confiáveis companheiros acaba tornando-o uma espécie de contraponto para o narcisismo vampiresco do dandi imortal Dorian Gray (Reeve Carney). A mera presença de Dorian parece potencializar as maldições e fraquezas individuais dos demais personagens, numa abordagem extremamente sagaz do conceito proposto por Oscar Wilde. O que o menino congelado num estado de beleza perfeita, eternamente procurando estímulos que o preencham, veria surgir em seu retrato secreto ao ser tocado por almas tão mais aterradoras do que seu próprio coração vazio? E como reagiria a "prostituta do coração de ouro", Brona Croft (Billie Piper, matando a saudade dos fãs de Doctor Who), se o destino lhe tivesse dado condições de compreender a forma sinistra e inexorável com que não apenas a tuberculose, mas principalmente os homens em sua vida, acabaram por torna-la a encarnação perfeita de um dos mais importantes arquétipos da literatura gótica (certamente o favorito de Edgar Allan Poe): a "bela dama moribunda na flor da idade".

Foto promocional de Eva Green, como Vanessa Ives.
E, finalmente, "um brinde à coisa mais misteriosa de Londres, a Srtª Vanessa Ives". Vivida com uma entrega atordoante pela diva Eva Green, a personagem já foi definida por vários críticos como o "coração de Penny Dreadful" e não tenho nenhum motivo pra discordar de tal afirmação. Não é incomum que jovens fãs perguntem ingenuamente se ela é a "tal da Penny Dreadful". Um engano bobo, claro, mas que não deixa de fazer sentido, dada sua importância no jogo de espelhos proposto por Logan. Dramaticamente ela é, de fato, o combustível da série e todos os personagens, de um modo ou de outro, são marcados por sua presença. Vanessa Ives... aquela que ouviu a voz sussurrante das trevas no seu momento de maior desespero, quando as próprias bases de sua existência ameaçavam ruir, encurralada pelas fronteiras intransponíveis que determinam a vida de uma mulher na sufocante realidade vitoriana. Sendo um espírito livre, Vanessa poderia até não compreender inteiramente a forma como a hipocrisia simbiótica que unia as famílias Ives e Murray corroía, de fora pra dentro, as vidas de cada um de seus filhos, mas podia sentir, em sua carne, em seu corpo, sem que nada pudesse fazer a não ser rezar, de acordo com sua rígida formação católica. Como, então, não se ressentir com a ingenuidade com que aquela que lhe era mais amada do que uma irmã se recusava a enxergar as barras da gaiola dourada que partilhavam? A dócil e prestativa Mina, aceitando cegamente as regras do jogo, como tantos de nós: "Na manhã seguinte, você estaria casada. Mais uma noite como Srtª Mina Murray antes de se tornar a Srª Charles Branson. Você não parecia se importar com essa perda de si mesma. Talvez eu tenha me importado por você". Como não ouvir a voz do "outro" que respondeu as suas orações enquanto Deus, como sempre, se mantinha em silêncio? Como resistir ao impulso cruel de destroçar aquele jogo de aparências mesmo ao custo de sua própria alma, no sentido mais complexo da palavra, encarnando o arquétipo da mulher maldita, da insana, da histérica, o receptáculo de todas os males e culpas do mundo, como seu Cristo ausente.


Sempre achei que devemos nomear algo antes que ele ganhe vida. Como o feitiço de bruxa. O nome dele é Ariel. O mais desafiador são seus olhos. Eles são de vidro, é claro. Então naturalmente são sem brilho e inertes. Mas isso não bastaria para meu grande predador. Então, coloquei espelhos atrás de seus olhos, pois assim eles brilhariam. Está vendo? Parecem estar vivos. Eu colocaria espelhos por trás do mundo todo se pudesse. (Vanessa Ives)

Sir Malcolm pode até ser o líder nominal da caçada, mas a jornada em si é sem dúvida de Vanessa. A personagem atravessa a loucura e seu próprio duelo pessoal com as trevas até atingir um estado precário de equilíbrio no qual, como uma maga, pode comungar com forças sobrenaturais. Nas cartas do tarô, nas vozes que sussurram a noite, nas orações ao seu Deus mudo, ela tenta desvendar sinais secretos que tanto podem levar a salvação de Mina quanto a sua própria perdição. Os estranhos e mortos deuses egípcios a desejam, os vampiros a desejam, Dorian, Ethan, Malcolm, o próprio diabo a deseja, entes tão monstruosamente masculinos, irresistivelmente atraídos - cada um a seu modo - por essa força feminina que precisam controlar. E o que Vanessa mais teme é descobrir, no fim das contas, que entregar-se, perder a si mesma, é seu mais íntimo e profundo desejo. O que poderia ser mais gótico que isso?

Quero que você seja a mãe do Mal. Quero que você governe a escuridão comigo. Ao meu lado. Olhando para um mundo negro, onde não há mais dor, porque não há mais corações para sentir. Teremos comido todos eles, você e eu. E juntos conquistaremos Deus. Derrubaremos Ele de seu maldito trono, e governaremos em Seu lugar. Eternamente. (A Voz nas Trevas)

A tragédia de Vanessa ressoa em nós de uma forma muito íntima, o que provavelmente explica seu apelo perante o público (os mais afoitos chegam ao nonsense de afirmar que a série perde o interesse toda vez que ela não está em cena). Ela nos remete aos impulsos (inexplicáveis?) que parecem nos instigar a construir (inconscientemente?) as circunstâncias que levam à concretização dos nossos maiores medos. As ações (impensadas?) que nos afastam de tudo aquilo que julgávamos amar, que magoam as pessoas que nos são mais caras, que destroem sistematicamente cada uma de nossas oportunidades de escapar dos labirintos sombrios que nós mesmos ajudamos a erigir. Num seriado onde todos os personagens possuem naturezas dúbias - o bem e o mal mesclados e indistinguíveis - Vanessa encarna a própria ambiguidade, elevando o drama a muito mais do que uma mera repetição de clichês. Através dela, Penny Dreadful volta o olhar sobre si mesma, problematizando os pressupostos da abordagem gótica sob um prisma contemporâneo.


Ser linda é estar quase morta, não é? A lassitude da mulher perfeita, a facilidade lânguida, a obediência, o dreno espiritual, anêmica, pálida como marfim e fraca como um gatinho. Há um ávido comércio para fotos de mulheres mortas, sabia disso? Em certos lugares... os corpos são melhorados com cosméticos e colocados em posturas de rendição abjeta e fotografados. Os homens circulam as fotos e saciam seus prazeres. Quanto requinte. (Vanessa Ives)

O horror aparenta ser um gênero extremamente conservador. Stephen King disse, certa vez, que o horror é "tão conservador quanto um republicano num terno de três peças" e, quanto mais clássica é a abordagem, mais reacionário se torna. De fato, o plot básico de boa parte das histórias de horror é uma erupção do caos (sobrenatural) numa realidade ordenada, sendo o objetivo dos personagens encontrar uma forma de restabelecer a ordem perdida (as vezes com sucesso, as vezes não). O horror parece insistentemente nos alertar que devemos tomar cuidado com nossos desejos e pulsões, que o hedonismo equivale a decadência e que as forças malignas, como os vampiros, só podem ser afastadas pelos símbolos sagrados, especialmente cristãos (acho particularmente divertido o quarto filme da série Drácula, da Hammer, que tem um protagonista ateu que se vê em maus lençóis pois a cruz simplesmente não funciona pra ele). Nos casos mais extremos, podemos nos sentir até incomodados quando filmes como Black Sunday ou O Estigma de Satanás nos apresentam bruxas com verdadeiro poder maligno, supostamente merecedoras da fogueira, justificando a inquisição. Isso soa muito estranho, e com razão, à sensibilidade contemporânea e colocar esses aspectos em questão norteou muitas das abordagens modernas que discutimos anteriormente (não foi por acaso que o vampirismo foi sendo cuidadosamente desvinculado da religião, por exemplo). Acontece que, num olhar menos superficial, as coisas se mostram mais complexas, existe uma ambiguidade essencial na abordagem gótica, um jogo de aparências, de texto e subtexto, em que a forma (e a responsabilidade) com que o público decodifica e se apropria da obra é ainda mais determinante do que em qualquer outro gênero.

Brilhante capa da clássica revista Creepy
que expressa com eloquência a ambiguidade do gótico.
Não importa o quanto tentemos acreditar em Bram Stoker bradando que a força do caos representada por Drácula é maligna e deve ser destruída pelos puritanos caçadores de vampiros em nome do Deus cristão, isso não torna menos tediosas as páginas do último terço do romance, repletas de orações encenadas e declarações de amor puro e "virtuoso" a uma divinizada (ainda que amaldiçoada) Mina. Na verdade, foi o primeiro terço do livro que garantiu sua imortalidade, onde nós somos Jonathan Harker, encurralados pelo velho conde no castelo ancestral, sentindo uma curiosa e inegável excitação ao sermos submetidos aos desejos das três irmãs misteriosas. Mal nos lembramos de como Drácula morre. E faz sentido. Para todos os efeitos, Drácula nunca morreu, ele está por aí até hoje, em múltiplas formas... para nosso alívio.

Os insípidos heróis e heroínas dos filmes da Hammer, da Universal ou da AIP não tornaram nenhum de seus intérpretes estrelas de cinema. Foram Boris Karloff, Christopher Lee, Barbara Steele, Vincent Price, Peter Cushing, Bela Lugosi, Ingrit Pittque se tornaram ícones imortais e amados pelo público. Justamente os intérpretes dos monstros, dos vampiros, dos vilões, dos corrompidos e corruptores. Não é por acaso: são eles que desafiam a lógica estabelecida do mundo, eles que colocam em xeque nossas crenças e valores, que problematizam nossas certezas mais profundas. Independente de serem ou não vencidos pelas forças da norma, são eles que permanecem conosco quando o livro fecha e quando as luzes do cinema acendem. "Até hoje a imagem de Carmilla me vem à memória numa alternância ambígua: as vezes é a menina brincalhona, lânguida e linda; outras é a horrível abominação que vi na capela. Algumas vezes, sonhando acordada, começo a imaginar que estou ouvindo, entrando na sala, o passo leve de Carmilla." (Sheridan Le Fanu - Carmilla). Charles Addams, o criador da brilhante Família Addams compreendeu muito bem essa ambiguidade moral que põe em questão a própria noção de moralidade. O aparente conservadorismo do gênero é uma espécie de acordo tácito não declarado: fingimos torcer pelo restabelecimento da norma, mas na verdade sempre estivemos ali pelo desvio. Ainda que respiremos aliviados quando os "heróis" escapam vivos e o monstro é destruído, nada nos regozija mais do que ver Drácula voltando à vida, emergindo do lodaçal de sangue e cinzas (como em Drácula, o Príncipe das Sombras) para espalhar o caos mais uma vez. Precisamos comungar com nossas sombras, precisamos do seu mistério, sua tristeza, sua incerteza,  precisamos que os espectros e demônios permaneçam conosco, zombando de nossas tentativas de ordenar esse mundo iluminado de shoppings e APPs. Precisamos do oculto, do escuro, dos vultos vistos de relance, dos olhos luminescentes que surgem ao pé da cama, nas sombras do quarto, sussurrando em nossos ouvidos a noite, garantindo-nos que, sim, existem terríveis maravilhas além do tédio esmagador da existência e da banalidade do cotidiano. Vanessa Ives reza ao deus cristão do catolicismo, ao símbolo máximo da norma e da ordem, mas "outro" responde. Quem é esse "outro"? A resposta apenas parece fácil. Na verdade, está sempre um passo a frente, atrás da próxima curva no labirinto das forças do caos que percorremos durante toda a vida... e talvez além. Se existe uma regra absoluta no horror gótico, seria a mesma da vida em si: se a respostas lhe parecem simples, provavelmente você ainda não entendeu as perguntas. Ethan quis saber se Sembene, o servo nativo-africano de Sir Malcolm, acreditava ou não no Deus cristão. A resposta talvez tenha sido a mais sábia possível: "Eu acredito em tudo."

Mas antes de qualquer outra palavra, você deve olhar em seu coração e me responder uma pergunta. Apenas uma. Se você foi tocada pelo demônio é como ser tocada pelas costas da mão de Deus. Isso a torna sagrada de certo modo. Concorda? Isso a torna única, com uma certa glória. A glória do sofrimento, ainda que seja. Agora a minha pergunta. Você quer mesmo ser normal? (Padre)

Penny Dreadful teve boa acolhida em geral, tanto de crítica quanto de público, sendo renovada para uma segunda temporada antes mesmo da conclusão da primeira, o que é um alívio. Ainda assim, tenho a impressão de que as muitas resenhas e comentários que tenho visto por aí, por mais elogiosas que sejam, parecem não ter sacado muito bem as intenções e promessas da série. É algo típico da "crítica" internáutica, uma certa pressa em emitir opiniões, uma impaciência que não raro é irritante. Não acho necessariamente ruim o modelo de resenhas lançadas episódio a episódio, mas sinto falta de um pouco mais de cautela ao emitir opiniões categóricas (quase sempre puramente pessoais) sobre uma narrativa ainda em andamento. Me parece que as opiniões apressadas sobre Penny Dreadful tentam encaixar a série nos vícios típicos da dramaturgia de seriados de hoje em dia. Uma preocupação excessiva com a "construção de uma mitologia coerente", com a "futura resolução dos mistérios propostos", com "personagens que nada contribuíram com a trama principal" (quase sempre a "trama principal" a que se referem seria simplesmente a busca por Mina). Enfim, uma certa forçação de barra para entender a série de acordo com a "lógica Lost", onde cada ponta solta pressupõe uma resposta devida, cada diálogo precisa ser referenciado futuramente, cada ação precisa deixar um aspecto em aberto na tentativa de segurar a audiência pela pura curiosidade. Não me parece que Logan teve a menor intenção de adotar essa estratégia de estímulo/resposta quase behaviorista. Eu acredito que, sim, haverá um maior desenvolvimento de temas e situações em aberto quando a série continuar na segunda temporada, especialmente no que se refere às referências à mitologia egípcia, mas não acredito que isso seja uma espécie de base de sustentação do interesse do público, nem que tudo precise ser necessariamente esclarecido futuramente. Coerência e clareza excessivas, como já vimos, nunca fizeram muito bem ao gênero. Os mistérios de Penny Dreadful são os mistérios inerentes à própria abordagem gótica e sua beleza é intrínseca, prescinde de explicação.

A galeria de retratos de Dorian Gray. 

Ficará mais claro o que quero dizer com alguns exemplos: A insistência de comentários ansiosos para que seja revelado o que há no retrato da sala secreta que Dorian mantém em sua mansão. Outros impacientes para saber se é mesmo Drácula o mestre ao qual os vampiros se referem. Ou qual a relação entre o demônio que persegue Miss Ives e os deuses egípcios Amunet e Amon-Ra. Também é comum reclamações sobre supostas "surpresas previsíveis", especialmente no que se refere ao personagem de Ethan Chandler e o destino final(?) de Brona Croft. Como mencionei antes, nunca me pareceu que houvesse qualquer mistério em relação a maldição de Ethan, estava claro desde o primeiro episódio. Por que então não foi mostrado com todas as letras desde o início? Ora, porque não era preciso! Do mesmo modo, nunca houve a menor dúvida de que somente Brona poderia assumir o papel que acabou assumindo no final da temporada. Não é uma questão de previsibilidade, mas sim de que não poderia ser de outra forma. Afinal, não estamos desde o início falando de uma série que explora e problematiza os elementos clássicos da literatura gótica? Pensando dessa forma fica claro que revelar os supostos "mistérios" da série só os banalizaria. O jogo de Logan é muito mais profundo do que meramente jogar iscas para "prender" a atenção do público. Sua aposta é em algo que sempre foi muito importante para o horror old school, mas que se tornou quase ausente do gênero nos últimos anos: aquilo que é insinuado é muito mais potente do que aquilo que é afirmado. Atenção: não confundir com mostrar ou não de forma explícita violência, gore e monstros (Penny Dreadful nos presenteia com sangue e vísceras com a mesma finesse com que constrói sua dramaturgia), mas sim que as implicações que o público realiza por sua própria conta marcam muito mais fundo do que aquilo que o roteiro desenha. Não precisamos ver o retrato de Dorian Gray. Nós já sabemos o que há nele!

O horror de estar vivo.
Os momentos mais brilhantes dessa temporada são justamente aqueles marcados pela sutileza, pela eloquência da sugestão. Momentos que pedem (precisam) da cumplicidade do público para se realizarem, passando batido se a audiência for impaciente ou cínica demais. Momentos como a expressão nos olhos de Protheus (Alex Price) ao perceber-se vivo (a sequencia de seu "nascimento" é uma verdadeira carta de princípios de Logan, com cada movimento de câmera nos fazendo temer que a série se entregue aos sustos bobos típicos dos scary movies, para depois nos surpreender - de verdade - com uma cena da mais arrebatadora beleza e melancolia). Os diálogos deliciosos entre Ives e Dorian Grey, onde cada meia-palavra insinua verdadeiros universos íntimos, sentimentos soterrados e necessidades inconfessáveis (e ainda há os que perguntam "Será que precisávamos mesmo de um Dorian Gray? O que o personagem fez de significativo para a mitologia?" o que demonstra o quão preocupante pode ser para o futuro da série essa indisposição para ler as entrelinhas). As implicações sinistras que Vanessa encara no olho ciclópico da então recente máquina fotográfica, a vida capturada por um processo químico de forma instantânea, elevando a enésima potência a temática do Retrato Oval, de Poe. A fina ironia na ideia do monstro de Frankenstein trabalhando nos bastidores do lendário teatro Grand Guignol (ainda que não seja o teatro original, que ficava em Paris, mas uma réplica decadente londrinense). A angústia que sentimos quando a possuída Miss Ives zomba de Sir Malcolm ao dizer: "Há algo mais cômico que uma mulher gorda chorando?", nos remetendo imediatamente à lembrança das lágrimas contidas da esposa do explorador ao vê-lo voltando vivo da África, e à realização da crueldade expressa naquele simples comentário.

Mais unidas que irmãs: Vanessa Ives e Mina Murray.
São momentos que exigem um tipo de cumplicidade que vai muito além da relação de custo/benefício dos estímulos/resposta televisivos. Muito além do cínico comando "entretenha-me" que subentende-se da impaciência dos comentários em blogs e sites de "crítica especializada". Apostar na disposição de entrega do público, no seu possível desejo de ir além do entretenimento em direção a arte, é algo sempre louvável - diria até urgente: "Não é papel do artista dar ao público o que ele quer. Se o público soubesse o que quer, não seria público, seria o artista. O artista deve dar ao público o que ele precisa", já dizia o sábio Alan Moore. Mas dar ao público o que ele precisa é algo bastante arriscado no mundo empresarial/financeiro das emissoras de TV, algo que obra-primas como a série Carnivàle, da HBO, acabaram descobrindo da pior forma possível (mesmo cancelada prematuramente, vale cada segundo de suas duas temporadas). Eu receio que, apesar do sucesso inicial, Penny Dreadful possa acabar sendo abandonada no futuro se uma grande parcela do público (quão grande? essa é a questão) começar a se dar conta de que não terá, necessariamente, "aquilo pelo que pagou", porém eu creio que vale muito mais a pena correr esse risco do que se readaptar para seguir as regras mais seguras de manutenção de audiência e garantir uma temporada vazia atrás de outra (Supernatural está indo pra décima, não é? Pois é...).


Vinheta de abertura original de Penny Dreadful, rejeitada pelo canal Showtime
no último momento, em prol de uma vinheta mais convencional.

Quanto a mim, falando da forma mais pessoal possível (até porque esse é um blog pessoal, não de crítica), espero que Penny Dreadful siga adiante com sua estilosa proposta, sem concessões, sem recuos, sem covardia. Que desenvolva - não banalize - seus mistérios e insinuações (claro que estou ansioso para ver aonde Logan vai levar as referências a Amunet e Amon-Ra vinculadas ao vampirismo, mesmo apostando que, muito provavelmente, jamais teremos uma "explicação" completa sobre isso, apenas uma bela e sinistra viagem entre terríveis maravilhas). Espero ver muito mais da esplêndida (e sutilmente estilizada) reconstituição de época da Londres do século XIX, tão familiar e tão querida para qualquer fã do gótico, e que os roteiros continuem sagazes em criar paralelos entre a realidade repressora da Era Vitoriana e os horrores sobrenaturais que sua cultura produziu (e cuja permanência até os dias de hoje parece nos dizer tanto). Não vejo a hora de voltar a ouvir aqueles diálogos deliciosamente literários e as interpretações não-naturalistas, cuidadosamente teatrais, evocando um universo tão distante (e ao mesmo tempo tão referente) do nosso cotidiano. Torço para que outros personagens clássicos da literatura entrem para o elenco da série, pois me parece que faria muito sentido (considerando o modo como a história tem se desenvolvido) a entrada de elementos de Carmilla, de Sheridan Le Fanu e O Médico e o Monstro, de Stevenson. Consigo até visualizar Mister Hyde seguindo Caliban por uma rua coberta de névoa, ou um encontro docemente amargo entre Vanessa Ives e a Condessa Mircalla.

Me dou conta... não é uma série perfeita para os mais desvairados e decadentes fanfics? #FicaDica ; )


4 comentários:

  1. Como fazer para procurar algum filme no seu blog ?

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    1. Meu blog não é de downloads. Deixo alguns links nos artigos por cortesia e uso o Minhateca para fazer backup dos meus filmes e séries (deixando aberto para caso alguém tenha interesse). Mais detalhes aqui: http://lordevelho.blogspot.com.br/p/blog-page.html

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  2. Vi toda essa primeira temporada, o olhar da criatura do Frankenstein é impressionante como passa angústia.
    No aguardo da segunda temporada.
    Escreve muito bem.
    Vou passar a estudar o teu blog, pois há o que aprender demais aqui.

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  3. Sr. Lorde Velho! Bom dia, venho através deste, comentar sobre seu texto. O quão é incrivel e maravilhoso e o quão me ajudou a expandir minha mente sobre o horror gótico. Não esquecendo sobre suas falácias, bem colocadas e bem expostas, de forma prática ao entendimento. Então, gostaria de poder manter contato com o Sr. saber se tem disponível seu texto, sobre horror góticoso. Pois, estou fazendo um artigo sobre a presença da lilith dentro de penny dreadful. E adoraria poder trocar figurinhas com o Sr. se a proposta for recíproca. Por favor, entre em contato comigo. Sei que és uma pessoa altamente ocupada, mais seria interessante essa troca. Qualquer coisa, fico no aguardo. Obrigada pela atenção. Meu email pollyannamoura.pm@gmail.com. Att. Pollyanna Félix, espero com muito esmero sua resposta!

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