Dentre as inúmeras esquisitices da longa série de filmes com o lendário "lobisomem espanhol, el conde Waldemar Daninsky, talvez a mais difícil da galera engolir hoje em dia seja que, dos 12 longas, apenas UM é uma história de lobisomem "pura", digamos assim.
Em todos os outros (incluindo o primeiro de 1968, indo até o último em 2004) o Hombre Lobo se vê às voltas com vampiros, alienígenas, múmias, cientistas loucos, assassinos em série, demônios, o monstro de Frankenstein e até mesmo (juro) samurais, Dr. Jekyll e Mister Hyde e o abominável homem da neve! Quase sempre como uma espécie de anti-herói sobrenatural, perigoso quando transformado, mas ainda assim inocente e mil vezes "menos maligno" que seus maliciosos e maquiavélicos adversários. (Confira aqui uma listagem completa dos filmes em ordem de produção).
Esse verdadeiro "samba do licantropo doido" fica (um pouco) mais fácil de entender, todavia, quando a gente fica sabendo que o filme que marcou a infância do ator, diretor e roteirista Jacinto Molina, mais conhecido pelo nome artístico de Paul Naschy, e o inspirou a se tornar o mais importante astro da história do horror espanhol de baixo orçamento, não foi outro senão Frankenstein encontra o Lobisomem, de 1943. Sacou?😉
Falando sério, claro que os filmes são ingênuos, absurdos e mambembes, mas bem longe de serem desprezíveis como alguns blogueiros se apressam em repetir. Seu sucesso popular em plena ditadura franquista só ganha paralelo na trajetória do nosso próprio "maldito" nacional, José Mojica Marins, que também peitava a censura com esse tipo de cinema fantástico delirante e em grande parte instintivo que, de alguma forma, parece cair como uma luva em contextos políticos por si só tão intrinsicamente inverossímeis com a própria noção de vida.
No fim das contas, se for pra implicar com alguma coisa, melhor que seja com o machismo. Afinal, só nos filmes do Naschy que a prata sozinha não basta pra matar um lobisomem. É preciso que a arma ou punhal sejam manejados por uma mulher que o AME TANTO A PONTO DE ACEITAR MORRER COM ELE! Pois é, menina! E não é que SEMPRE aparece alguma disposta? As vezes MAIS DE UMA! E elas DISPUTAM! E você aí achando que o lobisomem virar Mister Hyde ou socar o Yeti é que era forçado.😅
"No final dos anos 60, a equipe do programa "I, Spy" foi para a Espanha filmar alguns episódios; num deles, Boris Karloff estava escalado para interpretar um dos papéis. Entre os figurantes que trabalhavam no episódio, havia um rapaz tentando dar seus primeiros passos pelos caminhos tortuosos da indústria cinematográfica espanhola. Seu nome era Jacinto Molina. Ao final de um longo dia de trabalho numa locação remota, Karloff estava esperando pelo carro que deveria leva-lo até o hotel. Ele ficou lá por horas, exposto ao vento frio e à unidade da noite. Observando de longe, Jacinto viu quando lágrimas escorreram pelo rosto do envelhecido ator. Ninguém mais testemunhou esse momento. Nesse dia, o rapaz (que viria a ser conhecido pelo nome artístico de Paul Naschy) se tornou o homem que viu Frankenstein chorar."
Trecho do documentário The Man Who Saw Frankenstein Cry AKA El Hombre que Vio Llorar a Frankenstein (2010)
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