Sendo justo, é claro que aprendi muita coisa nesse célebre tratado de King sobre o horror nas mídias de massa, tanto que continuo usando como referência até hoje, mas ao mesmo tempo não tem como abstrair trechos como aquele em que o "mestre" cita Planeta dos Vampiros, do Mario Bava, como um exemplo de "porcarias que só servem de parâmetro pra reconhecer os filmes bons" (quase joguei o livro na parede ao reler isso mais recentemente). Pois é... depois dessa, é claro que o velho Carl Kolchak merecia ao menos uma chance, não?

Óbvio que não se trata de nenhuma obra-prima, nem teria como ser, mas a série surpreende sim, e muito, mesmo dentro das limitações dos paradigmas em voga em 1974 (episódios stand-alone, orçamento barato, necessidade de repetir uma fórmula em todos os episódios, etc.), conseguindo se manter divertida e até ocasionalmente arrepiante na maior parte de sua única temporada (especialmente o episódio Horror In The Heights, cultuado como o melhor da série, escrito por Jimmy Sangster, roteirista habitual da Hammer Films).
Mas, tirando isso, não é difícil perceber porque Kolchak acabou se tornando um precursor dos muito mais dignificados Arquivo X, Fringe, Supernatural etc. (aliás, é MUITO melhor que Supernatural, nem se compara😜). Darren McGavin é tão carismático que na maior parte do tempo sequer questionamos porque essas maluquices sobrenaturais acabavam sempre caindo no colo dele (afinal, ele é só um repórter normal, não um obcecado pelo oculto, como Fox Mulder, ou um caçador de monstros quase profissional, como os irmãos Winchesters) e prontamente relaxamos na poltrona para acompanhar sua ranhetice, suas brigas eternas com seu editor italiano Tony Vincenzo e o humor negro delicioso com que encarava cada caso macabro que aparecia. Infelizmente, a audiência da época não se conectou com a proposta e a série foi cancelada antes mesmo que alguns roteiros já escritos chegassem a entrar em produção.
Afinal estamos falando de Dan Curtis na produção e Richard Matheson nos roteiros e quem manja dos paranauês sabe muito bem que isso não é pouca bosta. Até hoje não se sabe muito bem por que Curtis e Matheson não tiveram nenhum envolvimento com a série. Possivelmente rolou algum treta feia quando os planos para um terceiro longa foram deixados de lado em prol da produção de uma temporada completa. Sempre tive a impressão de que The Norliss Tapes, piloto rejeitado que Curtis dirigiu ainda em 1973, teria sido uma tentativa frustrada de criar um Kolchak alternativo para concorrer com o "oficial" (saiba mais sobre essa minha teoria aqui). De qualquer forma, independente dos acertos e erros e confusões de bastidores, Kolchak e os Demônios da Noite é uma parte importante da história do horror na mídia televisiva e merece ser conhecido, independente da consideração que o "mestre" estava disposto a lhe dar.




Ótimo seriado.
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