sábado, 20 de julho de 2019

O Retrato de Helen...


"Desde que Helen se foi, não consigo encontrar nada. O tempo é interminável, a solidão é quase insuportável e a única coisa que me faz continuar é saber que minha querida Helen e eu vamos nos reunir algum dia. Para continuar, portanto, Helen é a minha única ambição. Você tem a minha permissão para publicar isso... realmente, você sabe, meu caro, é tudo apenas para matar o tempo. Por favor, publique isso."

Se o que caracteriza o horror gótico (diferenciando-o do horror em geral) é o apego e a (quase) celebração dos estados de decadência e ruína, tanto físicas quanto simbólicas, e um certo deleite pela melancolia mórbida, podemos dizer que The Ghoul (1975) é uma das produções mais góticas da história do cinema, não só pelo roteiro e direção acima da média (respectivamente de Anthony Hinds e Freddie Francis) mas principalmente por seus bastidores.

Em 1971, a esposa de Peter Cushing, Violet Helene Beck, faleceu de forma repentina e dolorosa e o veterano ator jamais se recuperou da perda. Ao contrário, ainda que não tenha chego ao ponto culminante de uma tentativa de suicídio, o fato é que Cushing perdeu totalmente a vontade de viver, conformando-se que seus dias restantes na Terra seriam apenas uma resignada espera pela morte (que viria em 1994, por um câncer que se recusou a tratar).

É notável a diferença em sua aparência e no tom de suas performances depois de 1971 e não é coincidência que sua escolha de papéis nos anos 70 fosse quase invariavelmente por personagens quebrados e angustiados. Mas em The Ghoul (lançado em VHS no Brasil como O Carniçal) o peso dessa morbidez atravessa a tela com particular intensidade quando notamos que o retrato da falecida esposa de seu personagem, Doutor Lawrence, um médico que teve sua família arruinada por uma maldição ancestral, é de fato um retrato da própria Violet!

O mesmo retrato já aparecera em Dracula A.D. 1972, mas apenas como um adereço de cena, em The Ghoul Cushing literalmente "contracena" com Violet e é impossível para o público não misturar ficção e realidade e sentir um estranho nó na garganta. A cena final é, sem dúvida, uma das mais inesquecíveis para os fãs do lendário cavalheiro do horror.



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