De todos as séries derivadas do vasto universo gótico que Mike Mignola construiu em torno de Hellboy, tenho um carinho especial por Witchfinder, o título solo de Sir Edward Grey, o lacônico e enigmático "investigador de fenômenos sobrenaturais a serviço da Rainha Vitória". Primeiro porque sempre tive um fraco por Detetives do Sobrenatural, um subgênero fundamental na literatura pulp, mas raramente bem explorado nos meios audiovisuais (ou, ao menos, não tão bem como deveria).
O conceito de um protagonista que, diferente das pessoas comuns, possui um conhecimento profundo do oculto e é capaz de se valer de técnicas e estratégias místico/científicas para lidar com o macabro tem uma ressonância única quando trabalhado com o devido equilíbrio entre a seriedade e o absurdo, mas no cinema e na TV quase sempre descamba pra saída fácil da farsa (como Supernatural fez por 15 anos), desperdiçando o potencial mais tenebroso da premissa.
Mesmo os raros bons exemplos no cinema, como A Casa da Noite Eterna (1975), mal chegam perto do que a literatura produziu, como a lendária série Carnacki, the Ghost Finder de William Hope Hodgson, só recentemente publicada no Brasil.
Quase como uma compensação, o chamado mignolaverse é repleto de detetives do oculto, como o próprio Hellboy e o B.P.R.P (Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal), mas Witchfinder se destaca por amalgamar os aspectos mais clássicos do subgênero num contexto vitoriano, quase como um "tudo o que você sempre quis ver numa série de detetive do oculto mas não sabia onde achar".
Para além de um legítimo herdeiro de Thomas Carnacki, Jules de Grandin e Martin Hesselius, a figura de Edward Grey possui um aspecto quase arquetípico, construído por Mignola muito antes do personagem ter sua própria série, com suas aparições como um misterioso fantasma encapuzado e mascarado já nas primeiras histórias de Hellboy (o que lhe empresta uma aura trágica, pois sabemos desde o começo que seu fim será cruel).
Infelizmente, só as duas primeiras minisséries, À Serviço dos Anjos e Perdido Para Sempre, estão disponíveis em português em edições traduzidas por fãs. #FicaDica pra Editora Mythos trazer esse material oficialmente para o Brasil.😉
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