quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A Sessão Corujão suprema das velhas Madrugadas Malditas...


Desde que me conheço por gente eu ouço falar de A Casa da Noite Eterna.

Sem exagero. Tenho lembranças claras de infância dos parentes mais velhos contando histórias cabulosas sobre o filme. Sobre dormir com a luz acesa, não conseguir tirar certas cenas da cabeça e outros superlativos. Havia um tio em particular que não cansava de repetir que era o filme mais assustador que já tinha visto, e isso até recentemente!

No fim, eu mesmo só tive chance de assistir há poucos anos (quando o BRrip caiu na rede) e claro que não foi TÃO assustador assim (nunca é, quando você já virou macaco velho no gênero😉).

Mas, como eu sempre digo, ser ou não ser assustador é algo muito relativo e nem é o mais fundamental. Independente de dormir com luz acesa ou apagada, The Legend of Hell House (1973) é um dos filmes de horror britânicos mais interessantes dos anos 70, uma espécie de elo perdido entre o antigo estilo gótico inglês e a pegada mais bruta e "realista" que começava a aflorar no horror setentista americano. É um filme violento e sexy, as vezes quase lascivo (ainda que o roteiro de Richard Matheson atenue bastante o conteúdo BDSM de sua novela), mas ao mesmo tempo hipercolorido e extravagante, com toda a teatralidade dos velhos filmes da Hammer.

Diferente do que costuma rolar nesse tipo de premissa, não há personagens leigos ou céticos, ninguém com quem a audiência possa (em teoria) "se identificar". São todos, em princípio, Detetives do Oculto, usando as terminologias e procedimentos "corretos" da parapsicologia e reagindo aos fenômenos da "Casa do Inferno" com aquele misto de tensão e frieza de quem é "profissa" no assunto. Isso tudo sustentado pelo tom cuidadosamente over das performances de Roddy McDowall, Pamela Franklin, Gayle Hunnicutt e Clive Revill.

O resultado é um certo distanciamento que, longe de alienar a plateia (como um coach de roteiro esperaria), intensifica a atmosfera geral de "esquisitice", de um microcosmo gótico onde tudo pode acontecer (até aquele final deliciosamente absurdo). No fim, dá pra entender o impacto psicológico que teve nos meus tios. John Hough acabou criando uma espécie de Sessão Corujão perfeita para madrugadas malditas. E que Belasco o abençoe por isso!🙏



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