domingo, 28 de maio de 2023

Reparando nos Dentes de Christopher Lee...


Não consigo deixar de reparar nos dentes irregulares de Christopher Lee.

Já tinham notado? Olha lá na arcada inferior: um pra frente, um pra trás, um pra frente, um pra trás. A arcada superior não era tão diferente, só parece mais regular por causa das próteses de vampiro, que deviam ser até meio chatinhas pra ele encaixar.

Não estou tirando sarro, de modo algum, é algo que me fascina mesmo. O maior Drácula da história do cinema (sim, ele é!😜) tinha os dentes tortos! Não é fantástico? Dá pra imaginar alguém com dentes assim sendo escalado pro papel hoje em dia? Será que o próprio Lee teria sido, se a Hammer Films tivesse entrado no mercado uns dez ou vinte anos depois?

Jesus Franco reparou (e muito) nos
dentinhos do tio Lee em sua adaptação
de Count Drácula de 1970.
Não sei exatamente quando os aparelhos dentários se popularizaram a ponto de se tornar uma espécie de norma estética não escrita, até pensei em pesquisar sobre isso, mas iria além do ponto. A questão é: se o padrão "dentes perfeitos" já estivesse suficientemente estabelecido no final dos anos 50, muito provavelmente o tio Lee não teria tido sequer a chance de ser levado em consideração. E nós teríamos sido privados de uma das performances mais icônicas da história do gótico cinematográfico.

Louco, né? Quando a gente pensa nesses termos.

E não lembro de ter visto mais ninguém além de mim chamando atenção pra isso nesses anos todos de pesquisa informal sobre o cinema de horror e o gótico old school. Talvez porque eu seja um dos poucos restantes que ainda tem "lugar de fala" pra tanto, afinal eu também sou um ator com dentes irregulares (nunca quis passar anos de minha infância/adolescência sendo apontado como "boca de arame" na escola, e dado o nível de bulling que eu já suportava habitualmente na época, essa não era, de modo algum, uma decisão irrazoável).

Assim, não tenho como não reparar nos dentes do Sr. Lee. Nem de viajar na batatinha, matutando sobre estética, padrões, noções arbitrárias de mérito e talento, e no quão volátil é o peso que damos pra tudo isso. Mais irregular até, talvez, do que os dentes do velho Drácula. E penso naquele episódio de Arquivo X em que o performer de Freak Show Jim Rose aponta o dedo pro Fox Mulder e diz: "Eu vi o futuro! E nele todo mundo parece exatamente assim!" Imagina que horror?



2 comentários:

  1. Eu me lembro de ter prestado bastante atenção nisto em O Senhor dos Anéis, na primeira vez que eu assisti o filme. E acho a sua reflexão bem válida: imagina se fossemos privados da imortal performance de Chirstopher Lee como Drácula, por causa de sua arcada dentária?

    De certa maneira, isso me lembrou um excelente episódio de Star Trek sobre uma raça que era tão feia a ponto de levar os indivíduos a loucura, se encaradas diretamente, e apenas o velho Spock consegue interagir diretamente com a criatura. Durante o episódio, uma fala do Capitão Kirk me marcou bastante:

    "I think most of us are attracted by beauty and repelled by ugliness. One of the last of our prejudices. At the risk of sounding prejudiced, gentlemen, here's to beauty."

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    1. E não me espantaria se houvesse alguém por aí que só conhece o tio Lee pelo Senhor dos Anéis e ache que os dentes eram próteses da maquiagem do Saruman.😅

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