quarta-feira, 3 de abril de 2019

Não Somos Monstros, Somos Ingleses!


Quem já conhece o filme espanhol O Expresso do Horror (Horror Express AKA Pánico en el Transiberiano) das infinitas reprises na Sessão das Dez do SBT nos anos 80 decerto tem um cantinho especial pra ele no coração.

Ainda que não seja (nem almeje ser) uma grande obra do cinema, é um filme surpreendentemente belo, com um elenco carismático, muito charme e, abençoadamente, nunca se leva a sério demais (apesar disso, ou por isso mesmo, consegue ser de fato arrepiante em muitos momentos, em especial nas aflitivas cenas de "lágrimas de sangue" na escuridão).

Um exemplo perfeito de um cinema fantástico inventivo e irreverente, que compensava os poucos recursos com uma imaginação desvairada e um saudável desprezo pela verosimilhança. O que dizer de um filme no qual um legista, ao constatar que o cérebro do cadáver está "liso", deduz que sua memória foi drenada? Ou que uma gota de sangue do olho de uma criatura pré-história revela gravuras de dinossauros ao microscópio?

Os "iniciados" vão notar que há até um toque de horror cósmico no enredo que, de fato, é uma adaptação (indireta e bem livre) da novela  Who Goes There? de John W. Campbell (a mesma das duas versões de The Thing: O Monstro do Ártico de 56 e o espetacular O Enigma do Outro Mundo de 82) e os fãs da Hammer Films sem dúvida assistirão sorrindo de orelha a orelha a uma das mais divertidas parcerias dos eternos cavalheiros do horror, Christopher Lee e Peter Cushing ("não somos monstros, somos ingleses"), mas não sem um toque de melancolia, uma vez que o filme de Eugenio Martín foi o primeiro trabalho de Cushing após o falecimento de sua esposa, tornando sua calorosa presença em cena particularmente comovente.

Telly Savalas, parece se divertir pra valer como o "cossaco doido das estepes da Sibéria" surgindo do nada no terceiro ato sem nenhum motivo lógico/narrativo (precisa?) exceto acrescentar mais uma deliciosa performance ao conjunto já formado por Alberto de Mendoza (inacreditável como o demente, mas carismático Padre Pujardov), Silvia Tortosa (charmosíssima no papel da Condessa Irina Petrovski), Helga Liné (acrescentando uma improvável Mata Hari genérica à sua galeria de damas fatais do fantástico espanhol) e a impagável Alice Reinheart ("sim, na sua idade não estou surpresa" #entendedoresentenderão).

Em suma, uma jóia do gótico espanhol setentista pra guardar com carinho entre as ruguinhas do cérebro.❤



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