sábado, 12 de outubro de 2019

Crescendo num Velho Castelo Gótico...


Sim, eu era uma criança que se escondia em cantos escuros para ler histórias de fantasmas.

Procurava o lugar mais lúgubre e solitário da casa, à noite, as vezes à luz de velas, e lia Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, Sheridan Le Fanu e M. R. James. Já tinha lido Drácula e Frankenstein quando era pouco mais que um moleque e não perdia nenhum dos filmes góticos da Hammer Films e da Amicus Productions nas madrugadas malditas da TV aberta.

Palavras como demonologia, ocultismo e ectoplasma já faziam parte do meu vocabulário bem antes do colegial e eu tinha uma boa noção de que quando uma bruxa se refere a um "familiar" não está falando de parentes.

Claro que nem sempre tinha clareza das fontes das coisas que gostava, não tinha ideia que aqueles livros e filmes cheios de fantasmas, lobisomens e vampiros eram baseados quase inteiramente no folclore do leste europeu. Mas essa era a atmosfera em que me sentia a vontade, que me alimentava intelectualmente e despertava minha imaginação.

Posteriormente, como a maior parte da minha adolescência se passou na década de 80, acabei deixando de lado esse estilo de histórias góticas em prol de abordagens mais "modernas", como os slashers, o gore, a pegada mais "realista" (ao menos nas maquiagens/efeitos), o humor negro auto-depreciativo, enfim, o vale tudo de uma década em que Stephen King se tornara "o" parâmetro do gênero, mas nunca tirei de fato o pézinho do velho castelo gótico coberto de ervas daninhas. Ele permaneceu lá todo esse tempo, o velho castelo em ruínas, imponente sobre a colina, guardando em si a escuridão, esperando pacientemente o retorno do filho pródigo.

Hoje me encontro confortavelmente instalado em sua câmara mais sombria, no topo da torre, na companhia de livros embolorados e antigos rolos de filme. Pela janela, distingo vagamente o espectro translúcido de uma jovem dama ao pé da colina, mas sei que se descer até lá ela irá desaparecer. Não me sinto solitário, pois os fantasmas conversam comigo, contando histórias sobre glórias esquecidas e lágrimas que secaram. Sabem como é, né? Tudo o que precisam é que alguém os ouça... e as vezes uma ou outra gota de sangue...




Nenhum comentário:

Postar um comentário