sábado, 3 de dezembro de 2022

Uma Rosa com Qualquer Outro Nome...😉


Já parou pra pensar o quão em baixa devia estar a "marca" Dracula no final dos anos 50 pra que a adaptação de 1958 da Hammer Films acabasse sendo lançada no Brasil com o título genérico de O Vampiro da Noite?😶

Tá certo que a gente se acostuma e acaba nem reparando tanto nisso, mas é um detalhe curioso, não?🤔

Ok, pode-se argumentar que talvez a ideia fosse evitar que a plateia confundisse com a versão da Universal Films de 1931, ainda bastante presente nas reprises de TV aberta, mas os americanos tiveram o mesmo problema e resolveram com um bem mais afirmativo Horror of Dracula. Por aqui, ao contrário, até a sequencia de 1959, Brides of Dracula, saiu como As Noivas do Vampiro (ironicamente até mais apropriado no caso desse filme em particular😅) e o velho conde só resgatou de vez seu direito de ostentar o nome nas marquises de cinema em 1966, com o lançamento de Drácula, o Príncipe das Trevas, enfim traduzindo ao pé da letra (e com orgulho) o Dracula, Prince of Darkness original.

La Frusta e il Corpo (1963), num
de seus vários "títulos alternativos"
para o mercado americano.
Pois é, gente, Drácula, o
Vampiro do Sexo
pode até
ser pior, mas... what?!🤨
Não por acaso, por volta dessa época, de acordo com o site Guia dos Quadrinhos, o mercado editorial brasileiro já estava começando a ser tomado por uma penca de gibis com a palavra Drácula estampada na capa, o que me parece uma indicação bastante clara de que o esgotamento do horror gótico que marcou os últimos anos da Universal Monsters na década de 40 (e caracterizou boa parte da produção de horror sci-fi cinquentista nos EUA), não chegou nem perto da metade dos 60 em terras tupiniquins. Sem dúvida justamente por conta da bocarra sangrenta de Christopher Lee sibilando para as plateias brasileiras na virada da década e reintroduzindo de uma vez por todas a figura do Conde Drácula de Bram Stoker no imaginário coletivo nacional.

Talvez até demais, na real, se consideramos que La Frusta e il Corpo (1963), obra-prima de Mario Bava com o tio Lee, saiu por aqui com o título de Drácula, o Vampiro do Sexo(😱), enquanto os demais clássicos da literatura gótica, pelo visto, seguiram sendo considerados pouco vendáveis pelas distribuidoras, vide o Masque of the Red Death de 64, infamemente rebatizado de A Orgia da Morte por aqui.🤨

Pois é, crianças, é como eu sempre digo: nunca julgue um filme de horror pelo título. Ainda mais se for das antigas.😉

Mas claro que essa vibe de títulos esquisitos e, no limite, inadequados que meio que assombra a história do cinema de horror desde os seus primórdios não se limita a traduções esdrúxulas para distribuição em mercados estrangeiros. Viabilizar a venda de um longa ou mesmo a captação de recursos ainda em fase de pré-produção se valendo de títulos intencionalmente chamativos e escalafobéticos sempre foi uma opção muito bem quista por parte dos departamentos de marketing de pequenos (e grandes) estúdios. O próprio ciclo Val Lewton nos anos 40, sobre o qual já falei bastante por aqui, é um clássico exemplo de obras refinadíssimas artisticamente sendo vendidas sob "marcas" escolhidas unicamente pelo seu valor de choque e que pouco (ou mesmo nada) têm a ver com o produto final (o que, se for ver, não deixa de ser uma espécie de propaganda enganosa).

O maior problema desse tipo de coisa é que as "regras" do marketing são, por natureza, imediatistas, enquanto que a arte (se efetiva) tende a ser eterna. Sem dúvida devia fazer todo sentido distribuir Dracula no Brasil como O Vampiro da Noite em 1958, ou promover uma pérola da melancolia mórbida tipo I Walked with a Zombie com um título tão inapropriadamente cômico em 1943, mas qualquer que seja a lógica adotada, ela rapidamente fica para trás, enquanto que as obras continuam.

Título internacional péssimo...
título original italiano quase tão ruim...
mas o filme é uma obra-prima!💗 
Títulos suficientemente genéricos como, sei lá, And Now the Screaming Starts, até conseguem seguir adiante sem maiores danos, mas é difícil entender o que passava pela cabeça dos marqueteiros de estúdio quando decidiram chamar uma das maiores histórias de fantasma do cinema gótico italiano dos anos 60 de Kill, Baby, Kill!.😳

"Ei, mas esse era o título de distribuição internacional! E o original italiano?" Então, o original italiano era Operazione Paura.😣 Quer saber como saiu no Brasil em 1966? Mata, Baby, Mata.😖 Pois é, gente, quantas vezes desisti de recomendar essa maravilha do Mario Bava porque ficava imaginando a cara que a pessoa ia fazer ao ouvir o(s) título(s).🙄 Assim, não posso deixar de aproveitar o tema, libriano que sou, pra fazer justiça: crianças, se amam horror gótico, não percam O Ciclo do Pavor (um "rebranding" para DVD até meio genérico, mas sem dúvida mais sensato😅).

E já que encarnei o libriano aqui, me permitam continuar sendo justo e deixar claro que não é sempre que as decisões de marketing das distribuidoras resultam em títulos tão desastrosos quanto os acima citados, por mais que casos assim tenham uma tendência natural a se destacar, justamente por conta de seu fator anedótico. Na maioria das vezes, porém, traduções e adaptações são feitas de forma competente o bastante pra sequer chamar a atenção para si, ou mesmo, em certos casos, tornarem-se tão icônicas quanto os títulos originais, tipo A Hora do Espanto para Fright Night, Tubarão para Jaws ou Pânico para Scream.

E ocasionalmente (quer dizer, bota ocasionalmente nisso) até acontece de um ou outro ficar MELHOR que o título original. E não há caso mais célebre disso do que o queridíssimo clássico de Sessão da Tarde oitentista, Os Aventureiros do Bairro Proibido, de 1986.

Muito, mas muito melhor que o
título original!
Sério, gente, quem bolou esse título estava, com certeza, num momento iluminado. Big Trouble in Little China é um títulozinho tão sem graça, tão mequetrefe, que até parece uma versão anglófona daqueles "sei lá o que da pesada" ou "qualquer coisa do barulho" que a galera adora meter nas comédias por aqui (taí um gênero que sofre muito mais do que o horror com títulos nacionais). Aventureiros do Bairro Proibido não só dá conta de sintetizar tudo aquilo que o filme de fato é (aventura galhofa, ficção pulp, fantasia desvairada, pot-pourri pop e por aí vai) como o faz de forma absolutamente memorável! Ecoa na cabeça e não tem como ser pronunciado sem um sorrisão enorme de orelha a orelha.😁 É bobo, épico, autodepreciativo, enfim, tudo o que esse notável precursor dos pastiches de Shaw Brothers a la Quentin Tarantino sempre foi, e "Grandes Confusões na Pequena China" nunca chegou nem perto de evocar. Fico pensando se alguém chegou a mostrar pro John Carpenter?🤔 Duvido que o tio não gostasse, por mais ranheta que seja.😅 Até em inglês soa bem! "The Adventurers of the Forbidden Neighborhood"!😂

Viu só, galera do marketing? Fica esperta: não tem justificativa pra chamar Insidious de Sobrenatural ou Jeepers Creepers de Olhos Famintos (olho de quem, cara pálida?!). DÁ pra fazer melhor! Sempre dá.😜

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