quarta-feira, 26 de abril de 2017

Muito Além da Verossimilhança

Death Bed: The Bed That Eats (1977) não é o tipo de filme que você acabou de pensar agora mesmo, ao ler o título.

Provavelmente nove em cada dez que topam com esse título imaginam que se trata de um trash zoeira, algo como, digamos, A Geladeira Diabólica ou (my eyes, my eyes!!) A Camisinha Assassina, aquele tipo de pseudo-horror cujo real objetivo é a comédia pastelão.

Ou então supõem que se trate de um verdadeiro trash, ou seja aquele tipo de filme tão sem noção e tosco que acaba se tornando involuntariamente engraçado.

Na verdade, o único filme escrito, produzido e dirigido por George Barry não é nem uma coisa e nem outra.

Não é involuntariamente engraçado, é propositalmente hilário quando quer ser, mas não naquela pegada de humor adolescente bobão, muito pelo contrário: é um humor estranho, perverso, surreal, o verdadeiro humor negro, que nunca deixa de ser, também, horror.

E não, ainda que conte com um elenco amador e baixo orçamento, não é tosco, ainda que sua busca pelo não-naturalismo e pela quebra proposital da verossimilhança possam passar essa impressão num primeiro momento, num olhar mais desatento.

Se fosse um filme europeu talvez fosse mais fácil de ser "encaixado" como um "filme de arte" ou "cult", mas sendo americano e produzido no esquema do mercado grindhouse setentista, é uma bizarrice fora da caixinha, um filme que quebra todas as regras possíveis de como se deve vender um longa metragem (e, obviamente, pagou o preço por isso, comercialmente falando).

Fãs de horror mais convencional tendem a tomar as excentricidades como simples inabilidade do diretor, taxando o filme como trash. Já os fãs de cinema trash muito provavelmente vão achar que o filme não é engraçado o suficiente, que se leva a sério demais.

Quem, porém, se deixar levar de alma aberta, vai se surpreender com a estranha beleza das imagens (observem as fotos com atenção: é o tipo de imagem que você esperaria num filme que fosse pura e simplesmente tosco?) e com a inesperada poesia que brota do contraste entre os momentos mais assumidamente cômicos e os momentos em que somos surpreendidos por uma profunda melancolia mórbida.

Claro que não é um filme perfeito (se é que perfeição é uma virtude), trabalhos experimentais costumam tender para a irregularidade, mas mesmo seus "defeitos" nunca deixam de ser, no mínimo, interessantes, ao contrário dos defeitos mais típicos de um horror convencional ou mesmo de um trash assumido (nem vou mencionar os supostos "acertos" de um scary movie americano padrão, seria covardia).

Em resumo, vale dar uma deitada pra descansar a cabeça de tanta mesmice.

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